DA NOSSA VIDA

Paz

Os tempos das crises económicas, que com grande frequência se repetem, aumentam a penúria da vida dos Pobres. Se nos momentos de maior desafogo, alguns se deixam encantar por promessas de facilidades para melhorarem a sua condição, assumindo encargos por longos anos, o regresso de nova crise a meio do caminho vem colocá-los, muitas vezes, diante de abismos de que não se podem desviar.

Quando a vida poderia ser vivida em paz e simplicidade, com aspirações sensatas, a difusão de uma mentalidade consumista e desajustada da desigual capacidade de cada um, vem colocar os Pobres que se deixam levar por essa onda, num espartilho de que não se conseguem livrar por seus próprios meios.

Aí se percebe o valor da paz, que uma consciência sensata não troca por nada. De facto, a paz desaparece do coração que anseia sem medida e desordenadamente. É deste querer desordenado que nascem as guerras, em pequena ou em grande escala. Mas também pode faltar por força de carências de variada espécie.

Uma mulher que vive com a sua filha doente, numa casa que construiu com empréstimo bancário, já lá vão uns anos, volta agora a confrontar-se com o incumprimento das suas obrigações perante o banco. A nossa Obra disse presente quando a construção se fez, e continua a estar presente na vida desta família, quer seja na dificuldade em pagar a factura da electricidade quer seja em pagar a mensalidade do empréstimo. Foi para esse fim que nos contactou: - «Na outra semana quase todos os dias chorei... Neste momento tenho duas prestações em atraso... Se não puder nas duas já lhe fico agradecida numa, na mais antiga...» Não é só a dívida que se vai acumulando mas o crescer dos juros que são implacáveis.

Fui procurá-la em casa, mas não estava. O lugar onde a casa foi edificada é de grande beleza. São duas encostas opostas e verdejantes a afundarem-se num rio. Do outro lado vejo um grande empreendimento turístico a aproveitar a beleza do local. A nossa Pobre teve a sorte daquele cantinho, não sei se por herança familiar. Mas este lugar paradisíaco não é suficiente para terem paz. Necessitam de mais humanidade na troca de bens e de serviços.

A paz é um bem excelente e indispensável, porque sem ela não há vida ou perde o melhor que ela tem. Que importa ter tudo o que a vida pode dar se não pode ser apreciada por falta de paz?

Uma mão amiga é sempre presença de paz, ainda que imperfeita. Dar a mão ajuda a erguer e comunica paz.

Padre Júlio