DA NOSSA VIDA

Vozes

Um dos nossos, vindo de país africano, encontrou preciosa ajuda nos nossos serviços hospitalares para os seus males. Aliás, Portugal tem sido neste campo, a salvação para muitos outros, naturais e provenientes dos PALOP. São vários, falando só dos que acompanhamos, a quem os serviços de saúde portugueses resolveram situações muito complicadas de saúde, resultantes de malformações ou acidentes. Sem esta ajuda teriam, muitas vezes, uma vida extremamente penosa, totalmente dependente e, provavelmente, vegetativa. Saudamos, por isso, com alegria, este verdadeiro exercício da vocação dos profissionais de saúde na defesa e promoção da vida humana.

Mas sabemos também que há quem inverta esse serviço para o bem em actividades maléficas interesseiras ou simplistas na resolução de problemas. Atentar contra a vida humana nunca deveria ter qualquer justificação ou cobertura legítima, nem em casos de interesses materiais ou ideológicos nem nos casos em que é invocada para solucionar problemas de difícil resolução. Neste último caso, a própria Organização Mundial de Saúde se manifestou pelo seu Director-Geral, para que o aborto seja promovido para evitar problemas de saúde para as mulheres que não desejam os seus filhos. Disse: «As mulheres devem ter sempre o direito de escolha quando se trata de seus corpos e sua saúde». Mas, a criança no seio de sua mãe é um membro do seu corpo?

O sentido natural da vida humana só pode ser o de a preservar e de a melhorar. Este mesmo pensamento se estende a toda a natureza. Um número enorme de vidas dá-se por esta causa. Como não podia ser de outra forma, o sentido em que a vida se orienta em todo o serviço cristão, só pode ser aquele que Cristo apontou com a sua vida: «Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância». Este é o caminho a seguir.

A condição humana terá de voltar a ser pensada na sua génese mais primária: O ser humano, seja qual for o seu estado de desenvolvimento físico ou cultural ou qualquer outro idiossincrático, é uma coisa ou um ser que transcende a matéria?! Torna-se claro que a vida só se pode retirar sem escrúpulos às coisas nem como consequência do ódio que desfigura o ser humano. Pela guerra o inimigo é um alvo a abater, sem direito a viver porque ocupa o espaço que o agressor tem como seu.

A opção pela vida é uma opção de radicalidade e, muitas vezes, dolorosa. Assim foi por Jesus Cristo e assim é pelos que O seguem. Não é pelos caminhos da facilidade dos canhões e dos milhões, que nos nossos dias se perseguem, que se construirá um mundo melhor. Ambos levam à morte e à degradação, em pequenos ou grandes passos de decadência.

Vozes com vida continuam abafadas, sem conseguirem fazer-se ouvir, em desproveito de todo o ser humano.

Padre Júlio