DA NOSSA VIDA

Dar

A diminuição drástica de crianças nas nossas Casas em Portugal, tem-me voltado o olhar para mais longe, onde as crianças arrastam a sua existência, sem pão, sem família, vazias de tudo o que carece a vida humana.

É certo que nos oferecemos para acolher algumas crianças perdidas nos campos de refugiados da Grécia, mas alguém responsável em organismos do Estado respondeu-nos que só em instituições especializadas. Ora as nossas Casas já preparam para a vida, há mais de oitenta anos, centenas ou milhares de rapazes, mas parece que para estes observadores continuamos a carecer de especialização.

Também nos disponibilizamos, por via oficial, a acolher crianças em situação de abandono, por falta de família e por consequência da guerra na Ucrânia. Até hoje não tivemos resposta.

Como as nossas instalações estão subaproveitadas, veja-se o que ficou dito atrás, abrimos as portas para partilharmos o nosso ambiente familiar com pessoas que, vindas da Ucrânia, dele pudessem usufruir. Não badalámos mas dissemos presente. Até agora nada.

Como é timbre do nosso viver, não fazemos acordos financeiros, isto é, damos de graça o que de graça recebemos. Não sei se para prestar estes serviços a quem deles precisa é habitual e necessário receber um pagamento em troca. Será por isso? Não sei também se o critério será um pouco semelhante como quando se manda consertar algum aparelho: se o custo de reparação é baixo, o cliente fica na dúvida se a reparação foi bem feita, mas se cara, então não tem dúvidas que a reparação foi de boa qualidade. Se calhar connosco acontece algo parecido: como não cobramos nada, concluirão que o serviço prestado é de fraca qualidade por falta de especialização. Tal como não muitos encarecem o Serviço que Cristo prestou à humanidade, dando-Se todo por nós.

Assim sendo, o nosso olhar deve voltar-se para mais longe, onde tudo é valorizado: o pão, a água, a roupa, um comprimido para aliviar a dor, um pouco de atenção, pois todos somos humanos.

Entretanto, continua a ser verdade que há mais alegria em dar do que em receber.


Tirar

Já sinto as angústias da guerra que virá...

Irão carrascos vestidos de cordeiro, por hospitais, casas de saúde, lares e outros lugares, convidando inocentes para a matança: «É uma dose levezinha que acabará, num instante, com o seu sofrimento. A dor passará num instante».

Parafraseando os nossos bispos, não tirarão a dor mas a vida.

Muitos concordam com a eutanásia, como concordam com o aborto, e muitos abstêm-se.

Pai Américo conta no livro "Doutrina", a páginas 176-178, que um pequeno de 12 anos procurara enforcar-se por três vezes, e no hospital dissera que voltaria ao mesmo: «Não posso aguentar mais isto.» Órfão de pai e mãe, maltratado pelos irmãos, como poderia aguentar? Salvou-se, quando Pai Américo lhe deu a mão, sem ter canudo de especialista.

Padre Júlio