DA NOSSA VIDA
Testemunhos de vida
Os Pobres são mestres em dá-los. De uma pobre mulher, que já conheço há uma dezena de anos, e que agora conheci melhor, irradiou luz. Em vidas que aparentemente só se vê ignorância e incapacidade para sair da situação de pobreza em que vivem mergulhados, brota uma generosidade e uma atitude destemida no serviço aos outros, que os mais fortes e mais ricos, geralmente, não são capazes de assumir.
De um casal de quem é familiar, incapaz de criar os filhos que conceberam, recebeu em sua casa um em estado físico lastimoso, e fortemente marcado por doenças de proveniência congénita e incúria a todos os níveis: «Ele tem oito anos, mas parece ter quatro ou cinco!»
Como é normal nestas situações, a primeira curiosidade de quem está fora é saber o que receberá dos organismos oficiais por ter acolhido esta criança. Analisado o documento que lhe dá os direitos e deveres legais, verificamos que unicamente receberá mensalmente uma quantia inferior a uma centena de euros, como pensão de alimentos paga pelos progenitores da criança acolhida. Se pagarem!... Outros subsídios, tantas vezes dados em situações de menor necessidade, não a contemplam, o que se reveste de injustiça e aumenta o mérito da sua disponibilidade e serviço.
O facto de ser madrinha da criança, aumentou-lhe o sentimento maternal por ela, e a impeliu a abraçá-la sem olhar para as suas próprias carências. Aos seus dois filhos, já crescidos, une-se agora este, pobre de tudo numa família também pobre.
Há dois anos que não nos procurava. Tal como nessa altura é a renda de casa em atraso. O pai de família vai amealhando o sustento de todos, mas agora a situação ficou ainda mais difícil porque teve, recentemente, um acidente de trabalho que o lançou para a cama de um hospital.
Os Pobres fazem o que mais ninguém faz. Depois, poucos apreciam as suas obras, e quem valoriza e os ajuda no seu serviço? Só os Pobres ajudam os Pobres, é preciso ser Pobre em seus sentimentos e obras para estar disponível para os acolher e ajudar.
Que diferença abissal entre pobreza sociológica e pobreza espiritual! Se muitos tivéssemos os sentimentos desta mulher e mãe, quantas situações de desumanidade deixariam de existir? Situações de desumanidade que se encontram naqueles que são pobres, mas desumanidade que se encontra também em muitíssimos que são ricos.
O binómio pobreza e riqueza podem e devem andar juntos, para mais humanidade; se isolados um do outro, saem todos a perder.
Padre Júlio