DA NOSSA VIDA
Património dos Pobres
Os milhares de casas de habitação construídas desde há setenta e dois anos para famílias pobres, incentivada pelo fogo espalhado em todo o país por Pai Américo, continuam a ser hoje de grande valor e utilidade para aqueles que se vêem incapazes de pagar uma renda. Mesmo tratando-se de rendas de baixo valor, que é coisa quase inexistente, até em localidades de pequena dimensão.
Foi, de facto, um fogo, aquele que Pai Américo ateou naquele 13 de Maio de 1952, em Fátima, que deixou muita gente inquieta e devorada pelo desejo de dar casas às famílias sem habitação, nas suas terras. Começou por afoguear muitos párocos e seus paroquianos, levando-os a fazer sair da terra pequenas e alegres habitações que deixavam espantados quem as via e nelas ia habitar.
Depois, outros quadrantes da sociedade foram atingidos, desde empresas e seus trabalhadores às próprias câmaras municipais. A palavra do Profeta realizou-se, e conservam-se ainda hoje e para o futuro os frutos que nasceram da sua sementeira.
Não houve terra onde não lavrasse e deixasse marcas este incêndio. Para melhor serem conhecidas na sua dimensão, aguardamos com ansiedade o trabalho que está a ser feito por alguém que perscrutou este tesouro deixado intencionalmente por Pai Américo aos Pobres, como a sua herança. Seguem-se citações do seu livro Ovo de Colombo, Paço de Sousa, 1954:
«Acontece, ainda, que há muito guardava no peito o desejo de um testamento. Não queria morrer sem deixar algo aos Pobres. (p 19) Os pedreiros começaram a trabalhar em Fevereiro do ano de 1951 (p 21). A estas primeiras casas levantadas à beira da estrada, seguem-se outras tantas e ainda mais duas, na mesma freguesia, à beira dos caminhos; de tal sorte que, no fim do ano, fizemos entrega delas a Pobres escolhidos. (…) As primeiras dezoito casas que nós levantamos no ano de 1951, atingiram milhares de corações e fizeram muita luz na inteligência dos homens; (…) cada uma delas é um monumento erguido a Deus, ao serviço dos seus Pobres.» (pp 23-24)
«Dois anos decorridos desde que se levantaram as primeiras casas do Património e, sem verbas oficiais, nem esboços ou projectos, a verdade é que, no limiar do ano de 1953, eram abrigadas do tempo, quarenta e duas famílias nos distritos do Porto, Coimbra e Lisboa. (p 37) Daquelas que temos construído e estamos construindo, não há palmo de terra que não seja oferta voluntária. São as câmaras. São as Juntas de freguesia, São os particulares. Estes são a maioria…» (p 46)
«Apenas o mestre de obras nos entrega as casas, nós fazemos o mesmo aos Pobres, ainda a cheirar às tintas. (p 50) Nós podemos chamar restituição à entrega destas casas a estes Indigentes. (p 50) Vem o Pobre buscar aquilo que lhe pertence.» (p 51)
«Obra verdadeiramente revolucionária esta de casas para Pobres, sem lhes pedir nada por elas, — porque Pobres. Voltamos aos tempos em que a terra era de todos e os seus frutos também. A Caridade recupera o que a chamada civilização perde.» (p 78)
Próximo à data de deixar o seu testamento concluído, eram cerca de três mil as casas construídas pelo país, continental e insular. Pai Américo partiu, mas o fogo não se extinguiu. Muitas outras casas iriam ser construídas.
Nos dias que correm, distantes àqueles nas exigências que se levantam em todos os domínios, as casas do Património dos Pobres continuam a ser a habitação necessária e desejada por muitos que dela carecem, pelo que é premente que as que existem sejam conservadas e recuperadas as que estiverem dadas ao abandono.
Que o fosso que o mundo cava, aumentando as injustiças, não se traduza num acréscimo de indiferença pelo Pobre, mas a ver n'Ele o apelo de Deus à verdade e à justiça.
Padre Júlio