DA NOSSA VIDA
Diversidade
No confronto em que nos encontramos envolvidos, nas decisões sobre o futuro da nossa Obra na relação com a organização e directivas públicas, não é despiciendo o modo de as acatar e de as cumprir. Nunca poderá ser esquecido que o que nos move não é o simples enquadramento organizativo com o modelo público, tendo em vista a prossecução de determinados fins, mas um certo modo de vida que se quer viver e partilhar com todos aqueles que acreditam e têm connosco as mesmas razões de viver, o mesmo sentido e esperança para a vida. Resumindo, o que nos anima e motiva não é uma mera prestação de serviços a quem deles carece mas, por eles, a renovação contínua do que somos e esperamos vir a ser. De modo que, no nosso enquadramento legal, a letra não mate a vida e, se possível, ela própria seja também renovada. Pai Américo bem trabalhou por esse desiderato, mas a vontade de renovar das coisas antigas não é unânime. Ainda assim, muito se transformou pela sua palavra e acção, de tal modo que deixou o mundo mais vivo e mais motivado para viver.
O que se pretende e todos dizem pretender, é a dignificação humana de todos aqueles que, por diversos motivos, são a causa e a razão da existência das estruturas sociais que os servem. Para alcançar essa dignificação, variam as sensibilidades e, por conseguinte, os métodos de se organizarem. No que nos diz respeito, o nosso modelo primordial é a família, não uma família qualquer, que esta também varia no conceito e prática, mas uma família concreta que é a Família de Nazaré, procurando espelhar na nossa as suas virtudes que nos farão crescer em dignidade e fraternidade.
O respeito mútuo devia imperar entre as diferentes estruturas sociais e quem as rege. É comum dizer-se que a diferença é enriquecedora porque promove o crescimento de todos pela qualidade do singular. Todos iguais, sem terem a possibilidade de viverem a diferença que caracteriza os próprios seres humanos, é uma norma redutora que mata porque se faz letra morta. É preciso que deixem que o espírito dê vida, dando a cada estrutura a capacidade de viver a sua singularidade, promovendo o crescimento de toda a sociedade.
Foi precisamente a possibilidade que foi dada a Pai Américo, de pôr em prática uma «palavra nova», que deu azo à auto-dignificação dos Rapazes que construíram as Casas do Gaiato, ao mesmo tempo que se iam auto-construindo e preparando para criar as suas futuras células familiares, que são a base estrutural da sociedade, algo que tanta falta faz nos dias que correm.
Ora nós sentimos que nos está a ser coartada essa liberdade responsável de agir, e nos são propostos modelos que reduzem em muito a qualidade humana das nossas comunidades pelo exagerado domínio dos seus membros. Precisamos de ser o que somos, sem, contudo, nos colocarmos no pedestal de sujeitos perfeitos e exemplos para os demais.
Somos trabalhadores de sol a sol, a começar pelos mais responsáveis que dão a cara pela Obra e ajudam a animar a vida. Vivemos deste trabalho e de toda a participação possível e devidamente enquadrada de todos os membros da comunidade. A «família de fora» vai dizendo presente em cada dia que passa. Assim queremos viver e assim queremos prosseguir o caminho a que Pai Américo foi impelido iniciar e a definir o trajecto.
Padre Júlio