DA NOSSA VIDA

O Tempo e a Obra

Pai Américo nasceu e viveu numa boa família. Sobreviveu a uma pneumonia, em tenra idade, por ter uma mãe que o aconchegou com o seu instinto maternal animado pela graça da fé. Teve em seu pai um decisor fundamental e determinante da sua vida futura. Os irmãos foram companheiros e apoios verdadeiramente fraternos. A sua vivência familiar deixou-lhe marcas e uma sabedoria indelével do coração.

A sua Obra tem a marca da experiência da sua vida. Não podia, por isso, deixar de ser uma Obra assente sobre os valores da família, não uma qualquer família, mas uma família com mãe, pai e irmãos.

Esta Obra não é pois um mero agregado de pessoas, mas o confluir frequente de novos membros e o desligar de outros que partem para uma nova vida, autónoma, naturalmente.

Também não é o exercício, mais ou menos experimental, de um estudo fundamentado nas ciências humanas, polvilhado de direitos e garantias que assegurem o desejado êxito individual dos seus beneficiários.

Esta Obra é consequência de um espírito que a anima, com muitos mais êxitos que fracassos, sendo estes inevitáveis, resultado da liberdade que é própria dos seres humanos. Nem todos podem compreendê-lo, e muitos menos exercita-lo, este espírito é um dom que não pode ser manuseado por ninguém nem aprisionado.

Esta Obra nasce de uma disponibilidade para fazer o Bem, por impulsão de um «Autor» que motiva e anima os seus «executores». A sua acção não termina quando a lei o determina, mas prolonga-se até ao sem fim da vida humana.

Como compaginar o efémero com o permanente? Cada ser humano leva consigo estas duas formas de vida, mas a primeira deve tender para a segunda, não o inverso. Alguma coisa justifica seguir o oposto?

Onde nos leva a sabedoria vivida por Pai Américo! Sempre nos sentimos aprendizes dela. Teses de diversos níveis já a exploraram, mas muito mais há a fazer enquanto houver vontade de melhorar as coisas do espírito e da matéria.

Foi há 136 anos que Pai Américo nasceu. Filho de um agricultor abastado, dotado de bom sentido das realidades, pela inteligência e pela experiência, e de uma mulher-mãe, providente e previdente nas coisas da vida, não saiu prejudicado nem favorecido por ter sido o último de oito irmãos. O seu encontro com o verdadeiro sentido da vida deu-se muito cedo, no seu tender para o acolhimento e ajuda aos outros, e, depois um interregno que lhe permitiu pôr as coisas da vida no seu lugar, escolheu a melhor parte mergulhando confiante nela. Embora os anos do tempo não lhe servissem de referência, as injustiças do seu tempo não lhe davam «tempo para perder tempo».

Tal como as Capelas Imperfeitas da Batalha, serviram de mote para Pai Américo classificar as Colónias de Campo que levou por alguns anos, a Obra segue igual pensamento, no que está feito e no que falta fazer.

Padre Júlio