DA NOSSA VIDA
Crianças
É sempre com algum espanto e relativa surpresa, imposta à sensibilidade e à memória, que os nossos mais velhos, já há muitos anos vivendo fora desta sua Casa, ao constatarem a reduzida dimensão da nossa Comunidade, brota-lhes do coração um «ai que no meu tempo era o refeitório todo cheio, mais o refeitório dos pequenos, uma algazarra…»
De uma vez não me contive e disse: «No teu tempo quantos abortos se faziam? E quantos se fazem hoje?» Para bom entendedor meia palavra basta. E porque esta é tão desagradável de pronunciar, embora carregadinha de verdade, será melhor seguir esse critério.
Para além de ter sido imposta uma ideologia a uma concepção da vida com critérios de fé ou simplesmente humanistas, para satisfazer a sede de domínio e de poder de alguns, também se resolveu um problema social, eliminando as crianças nascituras indesejadas ou que viriam a ser marginais à sociedade de bem-estar. Cortaram o "mal" pela raiz, pelo que muitos que em tempos passados nasceram, hoje não teriam nascido.
A mesma ideologia e o mesmo pensamento continuam a impor-se hoje e a levar por diante as suas pretensões. Mais recente é o caso da eutanásia, não já para as idades da infância, situação "resolvida", mas para as mais adiantadas na contagem do seu tempo de vida. O método é o mesmo: eliminar. Assim, pretensamente, se evitam despesas, consideradas sem sentido, e se dá a comer o bolo do Orçamento a quem dele tira maior proveito e utilidade.
Falamos da realidade que nos envolve e em que estamos inseridos. Noutras realidades, os seus valores tradicionais correm o perigo de sofrerem a mesma influência e a mesma transformação que, dizem os seus paladinos, são progressos civilizacionais…
Num programa de televisão de um país africano onde temos Casas do Gaiato, ouvi há dias uma senhora manifestar-se a favor da manutenção dos mais velhos no seio familiar, manifestando a sua repugnância pela saída destes para lares. Sabemos que tanto na infância como na velhice há situações de abandono ou semelhantes que justificam esse acolhimento, mas fica o realce ao cuidado humano que aos humanos deve ser dado.
Padre Júlio