DA NOSSA VIDA

Sem casa

A existência de alguns espaços livres nas nossas Casas tem-nos proporcionado a oportunidade de acolher várias pessoas, em diferentes circunstâncias, carentes todas elas de um espaço de habitação.

São mães com seus filhos, na iminência de serem lançados à rua, incapazes de pagar as exorbitantes rendas que hoje se praticam; são trabalhadores e estudantes imigrantes que não conseguem obter habitação compatível com as suas capacidades financeiras ou mesmo uma que esteja vaga; são até famílias inteiras ou casais que por diversas razões teriam de ir para «debaixo da ponte». Acresce ainda o risco de, em alguns destes casos, perderem os seus filhos até conseguirem ter condições de habitação exigidas pela lei, posta em prática pelos serviços oficiais. Dadas as circunstâncias actuais, que aumentam exponencialmente estes casos, seria bom que a lei reguladora destas situações se adaptasse pelo tempo necessário à melhoria das mesmas e não à sua penalização. A lei deve estar em função do homem em sociedade e não este em função daquela.

Estas prontas respostas a estas e outras situações de indigência, não são novas para nós, mas surgem em número e modo diferente de lhes respondermos. As referidas outras, são as mães sem meios para criarem os seus filhos e impossibilitadas de procurarem trabalho que lhes dê o sustento, presas pela necessidade de acompanhamento permanente dos filhos. Creches onde os possam deixar enquanto iriam trabalhar não existem para elas. Restam amas que têm de ser remuneradas. Aqui entramos nós. Antes, nós próprios os acolhíamos. Agora não podemos porque não nos deixam.

A pobreza traz hoje muitas dificuldades a quem tem de a viver. Não basta o sofrimento por ser pobre, soma-se-lhe o ferrete de marginal porque tem de andar a mendigar um lugar que lhe dê a dignidade exigida, certamente muitas vezes sem o encontrar. Isto de estar acima da fasquia niveladora do estado de pobreza não é fácil, e cair dele não é difícil.

Para nós este serviço aos pobres é motivo de alegria, embora por vezes nos traga alguma preocupação. Sabemos como algumas vezes há um reverso, no mínimo desagradável, que a força e o sentido do bem ultrapassam.

Estes espaços de que dispomos têm e dão autonomia às pessoas que acolhemos. É também a autonomia que se procura alcançar, para todos aqueles a quem damos a mão.

Padre Júlio