DA NOSSA VIDA
No princípio
Em 7 de Janeiro de 1940, há 84 anos portanto, Pai Américo dava início a uma nova maneira de criar condições para transformar o Rapaz da Rua em homem social e individualmente integrado na vida, a que todos são chamados.
Tidos como lixo das ruas, párias da sociedade sem direito nem capacidade para serem homens de corpo inteiro, os Rapazes da Rua impuseram-se a Pai Américo e encheram-lhe os olhos e o coração. Homem livre, sedento de justiça, solto das amarras que tendem a impedir o fluir da energia vital que faz do homem um ser distinto, chamado aos voos que o Espírito sopra, Pai Américo deixou-se por Ele impelir e conduzir.
Nasciam as Casas do Gaiato que, como tudo o que nasce, não se lhe conhece a realidade futura, mas se antecipa por intuição a grandeza a que é destinado.
Pai Américo foi livre, embora nem tudo o que gostaria de ver existir tenha visto, ficando somente a germinar no seu coração.
Tudo fez num tempo histórico que não permitia a vida em liberdade. No entanto, só deixou de fazer, creio, o que os costumes ou os hábitos imbuídos das normas morais correntes estavam estabelecidos como normas intransponíveis, como era o caso da coabitação de ambos os sexos. Hoje, todo o tipo de coabitação é para tudo e para todos, tendo como objectivo a plena integração de todos e de cada um nos diversos campos onde se faz sociedade. Múltiplos são os problemas que daí advêm, apelando a uma sensatez com um olhar prático perante os resultados.
Quando não há lei não há pecado; quando há menos regulamentação mais liberdade há no agir. O tempo que vivemos inunda e afoga quem quer viver segundo o Espírito, manietando toda a iniciativa que não enquadre o seu agir nos quadrados que os regulamentos constroem. Resta-lhes deixarem-se conduzir para as periferias ou margens da sociedade, onde o Espírito sopra para as revitalizar.
O homem põe e Deus dispõe. A sua criatividade não se deixa amarrar por mãos humanas e o seu enlevo continua a estar nos mesmos de sempre: os Pobres.
No dia 7 de Janeiro de 1940 começaram alguns Rapazes da Rua a construir e a experimentar a vida em liberdade, horizonte que se alargou a muitas centenas deles pelos anos fora. A verdadeira liberdade não exclui o outro membro necessário para se andar, que é a responsabilidade, num ambiente de proporcional autonomia em cada momento do percurso da vida.
60 anos
São os transcorridos desde o tempo em que o nosso Padre Manuel António, falecido em 2020, e o nosso Padre Telmo, fundaram as Casas do Gaiato de Benguela e Malanje, respectivamente. Acompanhados, cada um, de um grupo de dez dos nossos Rapazes, mais uma Senhora em cada grupo, constituíram-se todos os alicerces destas originais construções familiares, segundo o modelo vivido nas Casas de onde vieram. Juntaram-se-lhes muitos dos residentes nessas cidades e de outras localidades.
Foram carregados de esperança e de entusiasmo, de coração e vontade fundados no SSmo. Nome de Jesus, o princípio e fim de todo o empreendimento da fé. Se dúvidas tiveram, foram as próprias da fragilidade humana.
Ao fim de dez anos, as grandes mudanças políticas e sociais, terminaram com o serviço prestado por estas nossas Casas, que se viria a reatar quase 15 anos depois.
Terminados os trabalhos de Padre Manuel António e de Padre Telmo nas suas Casas, já dentro do novo século, vieram rendê-los, respectivamente, o Padre Quim e o Padre Rafael. Ad multos annos.
Padre Júlio