DA NOSSA VIDA

Família

Para que serve a família? Diremos nós que é o lugar humano onde se estabelece a comunhão de vida, em favor de cada um dos seus membros, ao longo de toda a vida.

Olhando a realidade humana e social em que vivemos, claramente nos surgem evidências de que muitas e muitas vezes isso não acontece, com situações em que se torna um lugar de morte em vez de um lugar de vida.

As razões também são muitas, pelo modo de vida actual que a desfavorece, pela legislação que se intromete e cria desvios à chamada ao compromisso que o ser família pressupõe, pela relativização à perenidade da subsistência da família como valor inalienável, etc, etc.

A Casa do Gaiato como família, nesta concatenação de famílias que formam a Obra da Rua, tem também os seus empecilhos para ser família.

O primeiro é a negativa que os poderes públicos lhe dão, porque nos negam como família e nos sinalizam como instituição, igual a todas as outras, sem vínculos familiares mas de mera assistência.

A partir daqui enquadram-nos num conjunto de atributos, retirando-nos a capacidade de termos os nossos procedimentos, o modo de nos relacionarmos tendo em vista a formação, educação e responsabilidade de cada membro da comunidade, procedimentos estes que nos dão o espírito e a visibilidade de uma família.

Claro que esta e outras intromissões vão fazendo mossa. Se lhe juntarmos as influências para desvalorizar a nossa dedicação em troca de efémeros acenos de satisfação individual aos nossos Rapazes e a amoralidade dos princípios e costumes, temos um caldo que não resultará num ambiente familiar mas num mero grupo de pessoas que fazem desta actividade um meio para obter a sua subsistência, i.e., o seu ordenado mensal.

Claro que nós podemos contribuir para agravar o afastamento do espírito familiar que desejamos. Pequenos sinais de vida são um contributo fundamental para que este espírito cresça e amadureça, dos quais passo a citar alguns.

A presença constante dos mais responsáveis em sua Casa. Neste ponto lembro-me do testemunho de um dos nossos padres que lembrava a insistência de Pai Américo em não sair sem deixar outro padre com a mão no leme da Casa. Isto não desvalorizava a importância do Rapaz nas preposições do "de, para, pelos", do nosso lema.

Também não era só por uma questão do número elevado dos mesmos mas pelo bafo de um coração paterno sempre presente.

Procurar a resolução dos problemas de cada um no interior da comunidade, problemas que nascem e crescem em todas as idades. O recurso a apoio externo sim, quando necessário, mas não deve ser procurado como método substitutivo da capacidade dos mais responsáveis. Neste ponto Pai Américo dizia que somos para os mais difíceis. Cumpre-nos abraçar a Cruz, acolhê-los nas virtudes mas também nos defeitos.

Por último, a extinção da família como nós a entendemos, que alguns procuram realizar. Também há quem nos pretenda aplicar a mesma terapia, para alcançarem a vitória das suas ideias. Para nós não é uma questão de ideias mas de vidas, pelas quais a nossa vida é responsável e responsabilizada por Aquele que dá a vida a todos para que sejamos irmãos.

Padre Júlio