DA NOSSA VIDA
Uma vida
Procurando centrar o pensamento no objectivo principal para este dia, desabafei com o Fajó enquanto o levava à escola, que não sabia o que havia de escrever para o nosso jornal. Ele, com a atenção sempre muito viva, que o caracteriza, logo disse:
— Escreva sobre mim!
— Mas que haveria de escrever? Só se for sobre o Fajó campeão!
Não sei o que me respondeu, pois não o levei muito a sério.
Chegada a hora da verdade, quando temos de agarrar a caneta e fazê-la deslizar no papel com alma e coração, o assunto tem de brotar, e explanar-se com maior ou menor clarividência. Revi então o Fajó com o seu fale de mim, e decidi tentar…
O Fajó é o «benjamim» da nossa Comunidade. Como todas as crianças da sua faixa etária, passa a maior parte do dia na Escola. Para além desta, ainda dedica mais algumas horas numa academia de estudo, o que para ele é uma ajuda importante. No fim do dia, restam-lhe poucas horas livres, usando as que antecipam o terço e o jantar a dar uns pontapés na bola, o que para ele serão os melhores momentos do dia, tal como era tradição entre os gaiatos.
Temos, pois, aqui, dois assuntos muito importantes e preenchedores da sua vida: a Escola e o futebol.
Quanto ao primeiro, sabemos como no mundo actual a obtenção de conhecimento é factor central para a vida presente e futura dos jovens, ficando em pelotões mais atrasados, da concorrência social, aqueles que não os forem acumulando e não desenvolverem as suas capacidades de progressão. Para estes, que têm mais dificuldades em meios e pessoais, e para que não fiquem marginalizados, o sistema vai-os colocando, artificialmente, no mesmo nível escolar dos outros. Só que, mais tarde ou mais cedo, chegará a hora de ingressar no mundo do trabalho e não servirá de muito essa equiparação, sendo a remuneração de cada um de acordo com a sua capacidade de trabalho. Por estes motivos, gostaríamos que cedo houvesse no percurso escolar, formação prática direccionada para os menos apetrechados, num projecto começado a traçar-se cedo com uma visão de futuro.
Como estavam nesta linha as possibilidades que tínhamos de formação dos nossos rapazes, há uns anos atrás, para se criarem os tão importantes hábitos de trabalho, e mesmo para capacitá-los para o exercício de uma profissão!? Hoje, com o tempo tomado pela escola no exterior, torna-se inviável esse modelo.
Falando agora do tema futebol, que muito interessa e apaixona o nosso Fajó, tanto na sua prática como na do seu clube, é um ponto de conversa diária: ora para descrever os seus belos gestos técnicos nas partidas na Escola, ora para enaltecer os resultados e sucessos do seu clube. Durante os jogos que vê na televisão, é difícil estar a seu lado, porque só aceita vitórias da sua equipa e arrasa todas as outras, especialmente as concorrentes. Quando as coisas não estão a correr bem para as suas cores, é crítico contundente deste ou daquele jogador, mas o que nunca muda é a chacota com que trata os principais adversários e o aplauso para as equipas que podem fazer-lhes mossa.
Este fervoroso adepto de leão ao peito, para além destas facetas tem também outras, não menos importantes, que o ajudarão a cumprir as tarefas da sua vida.
Padre Júlio