DA NOSSA VIDA
Boas notícias
Recebi visita de pessoa amiga, da nossa Obra, de há muitos anos. Falou da actual situação dos nossos rapazes que acompanhou quando cá estavam e depois que saíram para a sua autonomia. Do que ouvi da situação presente muito me alegrei, a ponto de me admirar com os progressos por eles obtidos.
Um deles é um rapaz que recebemos quando ainda não tinha idade para frequentar o ensino primário. Conta-se que, quando veio, era muito resistente a ficar connosco, embora a sua origem fosse de grande pobreza e marginalidade. Com o tempo foi mudando a sua atitude e, na adolescência, era já um rapaz simpático para todos e sorridente.
Na fase dos seus estudos mais avançados não estive por perto, só agora tomei conhecimento de quem ele se tornou, um especialista na sua área de trabalho, solicitado em vários países a transmitir o seu saber.
Apesar deste enorme êxito que atingiu na sua vida profissional, ficam por perceber algumas das suas opções de vida, que me parecem desconcertantes. Nem tudo na vida das pessoas é inteligível, neste caso é incompreensível. Gostaria que também aqui alcançasse igual êxito, uma perfeita reconciliação com a sua vida e a dos outros. Nestes mistérios da vida só, por vezes, Deus «quebra ao preso as cadeias», como diz o Salmista.
O outro rapaz, de quem a visita atrás referida deu notícias, foi também problemático no início da sua entrada na nossa Casa, respondendo com desprezo ao acolhimento que lhe era dado.
Cresceu e, feito homem, ao assumir a sua autonomia, deu conta de si mesmo e da sua situação. Não enfrentou a vida lançando alicerces seguros para a construir em vista do futuro, antes tudo fez para ter um viver descontinuado do passado e sem compromissos com o futuro. Apesar dos muitos apoios com várias origens, nada aproveitou e mais se enterrou, a ponto de parecer uma vida perdida a dois passos do fim.
Durante muito tempo não houve notícias deste rapaz, chegando-nos agora uma notícia retumbante e completamente inesperada: o nosso rapaz encontrou quem conseguisse fazer o que nem nós nem outros conseguimos. Está com uma vida normalíssima, fazendo o que sempre gostou, apresentando-se sem marcas do passado que pareciam irreversíveis e que iam destruí-lo.
A vida do ser humano permanece um mistério. Muito há nela de mistério. O que pode parecer irremediavelmente perdido, enquanto tem vida, tem oportunidade para se reencontrar e salvar (libertar).
Padre Júlio