
DA NOSSA VIDA
Fidelidade
Pai Américo começou a sua missão de amigo dos Pobres, quando criança, ao acolhê-los quando passavam à porta de sua casa. Ia lá dentro à caixa, e tirava e dava-lhes do que lhe parecia.
Nunca os esqueceu, nem mesmo quando vivia, já adulto, em Moçambique, enviando-lhes parte do fruto do seu trabalho que alguém se encarregava de fazer chegar aos destinatários.
Em Coimbra, nova vida começada, o centro do seu pensamento andava pelos tugúrios da cidade, carregando cobertores e alimento para os aliviar da fome e das doenças contraídas pela exposição à miséria.
Anos mais tarde, ei-lo a ser escutado por toda a parte, e a revolucionar a assistência aos pobres, especialmente dos garotos da rua abandonados, que passaram a ter um projecto de vida nas suas mãos, a concretizar com o seu esforço e o bafo da família que se constituiu para eles, com o beneplácito da sociedade crente naqueles que de lixo social passaram a ser um valor social.
Em tudo sempre métodos simples, adequados à natureza dos garotos e ao contexto da sua vida e origens. Liberdade, espontaneidade e responsabilidade a evitarem todos os espartilhos que condicionam um crescimento saudável.
Estes mesmos valores, também para os educadores, enformados por um espírito de pobreza, à maneira de Cristo que se fez pobre para nos enriquecer com a sua pobreza. Pai Américo foi pobre, fez voto de pobreza voluntário, a sua vida enriqueceu e continua a enriquecer a muitos.
A passagem do tempo tende a suavizar e a aligeirar a radicalidade das grandes opções. Uma cruz mais leve torna-se mais atractiva e aparentemente mais convincente. No entanto, em momentos mais críticos, pode ser bem-vindo um «cireneu» que surja no caminho, chamado a ajudar num momento de incapacidade; mas ninguém é dispensado de levar a sua cruz.
Esta é a pedagogia. Outra, baseada em técnicas e eventuais estudos de laboratório, nunca se poderá enquadrar neste modo de viver: ser pobre para melhor servir os pobres. A vida humana, apesar de ter comportamentos previsíveis e repetitivos, tem sempre uma imprevisibilidade que a define como humana e receptora do divino.
Hoje, nas facilidades ilusórias de um garantido bem-estar, nem que seja subsidiado, perdem muitos o sentido da vida, e com seus pés de barro ficam incapazes de caminhar para a sua verdadeira autonomia.
Padre Júlio