DOUTRINA
O brilhante foi um carvão negro!
Um dos vendedores do jornal, no regresso da praça, entregou um bilhete do sócio-gerente da Drogaria Costa, a dizer assim: «O seu Carlos Inácio resistiu hoje à tentação da gula. Teimei com ele para comer um pastel e o Homem resistiu e venceu. Junto remeto 20$00 para que o autorize a comprar com eles o que entender».
O rapaz foi chamado à barra para ouvir ler este cartão de boas novas diante da Comunidade e deu-se-lhe a nota com ordem de comprar o que quiser, na primeira ida à cidade. Vamos a ver os gostos que ele tem.
No Gerês, após a minha palestra, uma senhora de Braga aonde os vendedores costumam ir comer, contou-me entre outras, esta feliz novidade: «Eles pedem para lavar as mãos e rezam antes e depois de comer». Estes dois anúncios teriam sido muito mais eloquentes naquela noite, feitos por pessoa estranha, do que toda a minha «importante conferência».
E agora, também eu quero fazer uma revelação muito simples: as paredes das nossas casas não estão riscadas.
Estas três comunicações da vida familiar dos nossos, são documento de reais valores humanos que andavam perdidos ou mal orientados. São tudo coisas muito pequeninas, sim, mas índice seguro das suas grandes possibilidades. Isto de perguntar aonde é que se lavam as mãos antes de comer, por quem não tinha sítio aonde se lavar. O levantar o pensamento a Deus antes e depois da refeição, por quem tinha antes a catequese das ruas. E fazê-lo fora e longe de casa, sem sequer dar fé de que está sendo notado - isto é um programa de vida. E que dizer do não riscar paredes!? Tantas, tão novinhas, tentadoras! E eles com lápis e tinta e carvão à mão! Parecem mocinhos importados da Holanda porquanto o riscar muros é um costume nacional.
Vamos gabar esta fauna de tudo e por tudo? Não senhor. Nenhum deles é aquela pessoa que se apresenta. Cada um é a herança da rua. Mas como neles tudo é de aproveitar, muita coisa boa se aproveita. Eu sou testemunha de ver, de ouvir e de sentir. O brilhante foi um carvão negro!
Talvez se aproveitem menos valores entre a mocidade dos enriquecidos que, além de empobrecerem o mundo, derrancam os filhos e o mundo. Acreditam-se com o dinheiro, mas a verdade é que o dinheiro nunca foi boa credencial.
PAI AMÉRICO, Notas da Quinzena, pp 100-101.