
DOUTRINA
Hoc fac et vives
Hoje, primeiro domingo de Setembro. A porta da nossa Capela abriu-se às 8,30 e começaram a entrar dois grupos: primeiro, o das Colónias de Férias que se colocou do lado da Epístola e depois o da Casa do Gaiato, do lado do Evangelho.
Eu sei que muitos dos meus leitores se aborrecem de eu falar em Capelas e Coisas Celestes. Já me têm ralhado por isso. Há dias, uma carta da capital vinha a fazer lume: «Desde que v. tem capela, desmereceu no meu conceito».
Quem pode agradar a todos? São palavras.
Continuemos. A Capela encontra-se repleta. O mestre de canto abre o harmonium e o coro dos pequeninos aproxima-se. Duzentos rapazes da rua cantam ao pé do altar! O Evangelho do dia é a parábola do bom Samaritano. Estava ali a lição aplicada. Eu, que era o celebrante, senti todo o vigor da Doutrina de Jesus. Não da do meigo Nazareno, como alguns querem que Ele seja, mas sim a do Homem de Dores, como diz a Escritura. Ouvi-O dizer novamente por palavras misteriosas: «Sim; faze como fez o Samaritano e viverás». Ora o que importa no mundo é viver, não de qualquer maneira, mas sim como o Mestre manda que se viva: Hoc fac et vives.
* * *
Regressou o 4.° turno das Colónias de Férias e terminaram os nossos trabalhos, por este ano.
Não fugiu nenhum colono!
O passeio grande deste grupo foi à quinta dos Pinto Bastos, de Cête. Antes, tinha sido à mata do doutor Avelino, em Coreixas; e os outros, foram em montes abertos, mas o certo é que cada grupo teve o seu pic-nic. Avelino e Pinto Bastos compareceram e reforçaram fidalgamente com fruta e doces, a nossa merenda.
O dia do passeio grande é inesquecível. Não é o passeio que é grande, é mas é a ocasião. Eles saem de manhãzinha a puxar um carro de mão, donde vão as caçoilas mais o que nelas se há-de cozinhar. Lenha, é dos montes. Lugar, é escolhido por eles. Regressam à noitinha, mais contentes do que cansados.
Foi no ano de 1935. Eu tinha arriscado o primeiro serviço de Colónias de Campo com garotos de Coimbra. Tudo correra bem. Descia a encosta do Liceu o pároco da Sé Velha, com quem troquei impressões. «Se você continuar com essa obra» - disse ele - «aperfeiçoa-se».
Continuou-se a obra das Colónias de Campo. Dela nasceram as Casas do Gaiato. Da desorganização saiu uma formidável organização!
Quanto custaram as Colónias do Garoto das Ilhas do Porto, em Paço de Sousa? E, quanto as do Garoto da Baixa de Coimbra, em Miranda do Corvo? Quanto? Não se sabe. Não é da nossa conta. O nosso intuito é que nada lhes falte, a eles, garotos, e nisso temos sido muito felizes e havemos de continuar a ser. Hoje, como ontem, é hora de milagres.
PAI AMÉRICO, Notas da Quinzena, pp 102-104