DOUTRINA

É muito mais fácil conduzir eléctricos do que almas!

Segundo uma comunicação do Padre Adriano quando ele desembarcava na estação de Miranda do Corvo um dos grupos de colonos, o mais numeroso, ouviu dizer do lado: «Anda, Zé povinho; paga e não bufes». E, em cima, a caminho do Santuário da Senhora da Piedade aonde é o lar das Colónias de Férias, escutou a mesma sentença, por outras palavras: «Olha o dinheiro das nossas décimas!» Isto são dois espinhos cravados por gente daquelas terras. Os desta são na mesma.

Há dias, entravam em um eléctrico dezanove dos nossos, do Lar do Porto, a caminho da Foz do Douro:

- Quem sois? - pergunta o condutor.

- Somos do Padre Américo.

- Ah!, sim; uma boa indústria que anda pr'aí.

Estiveram cá uns visitantes. A uma daquelas respostas espontâneas e luminosas que os rapazes costumam dar, fizeram os senhores o seu comentário: «Sim senhor. Os rapazes estão muito bem ensaiados!»

De maneira que temos em Portugal um governo que dá pelo nome de Estado Novo, o qual se entretém a pagar todas as despesas de uma indústria nova em que os rapazes, às chusmas, são ensaiados na mentira. Ou seja, de quem faz a casa na praça: uns dizem que ela é pequena, outros que é grande! E ninguém acerta.

Mas há mais e melhor: O «Poupa» entra em um eléctrico e oferece O Gaiato:

- Ande, que é para ajudar o Padre Américo.

O senhor comprou, mas o condutor quis certificar-se.

- Para a Obra de quem?

- Do Padre Américo.

- Esse padre que pegue numa enxada e vá cavar, que tem bom corpo!

Era de uma vez uns homens de Coimbra que foram deportados por lançar bombas! Eram lavrantes de ferro e ganhavam como ninguém, mas o que eles pretendiam era a desordem. Falavam na mesma; gostariam de ver o padre de rastos. Pois muito bem. Filhos, sobrinhos e suas mulheres encontraram-se comigo, alguns até ao leito de morte! Para aqueles e para estes, vai a terrível vingança: «Pai Celeste, perdoa-lhes que não sabem o que dizem».

Assim se vingou o Crucificado!

Gostaria de ter mais corpo e mais forças para cavar mais fundo com aquela enxada que o condutor de carros não vê nem compreende. É muito mais fácil conduzir eléctricos do que almas!.

PAI AMÉRICO, Notas da Quinzena, pp 108-109