DOUTRINA

Uma revolução sem par!

Três dos nossos do Lar do Porto, arvorados em comissão, foram ao consultório do Doutor Ferreira Alves, a quem pediram para falar. Aquele senhor, cuidando que se tratava de um peditório, mandou entregar um pequeno donativo. «Que não», disseram os rapazes. «Nós pretendemos falar».

O Doutor Ferreira Alves mandou entrar a comissão e ouviu. Eram eles: o Júlio Mendes, de Elvas; o «Ferreirinha», do Porto; e o Bernardino, de Coimbra. Norte, Sul e Centro. Levavam a pretensão de conseguir cama no Sanatório de Francelos para um pequeno doente que fora paquete, como alguns deles são, em firma comercial da cidade; e hoje encontra-se doente dos ossos, sem meios de viver. O médico notou o interesse dos rapazes pelo rapaz e declarou solenemente que seria para ele a primeira cama vazia. Assim aconteceu. Volvidos dias, estava com eles a notícia da vaga. Quando os nossos andavam afadigados em conseguir transporte adequado, alguém adiantou-se e levou o rapaz no seu próprio carro, em companhia da mãe. Até aqui os factos. Vamos ao comentário:

É muito difícil, na nossa terra, conseguir leitos para doentes desta natureza, pela demora das curas. São sempre largos meses. Podem ser largos anos. No caso em questão andava muita gente empenhada sem resultados satisfatórios. Mas eis que surgem três rapazes afoitos, conscientes, magoados por amor do camarada. Eles são visitadores de Pobres, nas horas vagas. O pequeno é um doente deles. Sabem o que querem. Sentem o que dizem. «Nós queremos falar ao senhor Doutor.» E o senhor Doutor Ferreira Alves escuta.

Aprenderam a agir por si próprios no à-vontade das nossas Casas. Caiu-lhes o ferrete da testa. E aonde parecia estar dantes o perigo para a sociedade, vê hoje a mesma sociedade estrelas: «A primeira cama é para vós».

Isto é uma revolução sem par, uma demonstração da riqueza das almas e do bem de que os homens são capazes quando se coloca diante deles, não textos, mas sim a doutrina do Evangelho realizada!

É ver como estes rapazes, ontem sem posses nem forças nem nome, são hoje acarinhados pelos poderosos. O Cristianismo reside por tal forma na estrutura de cada mortal, que mesmo aqueles que o não confessam, são-no por natureza. Cristo vivificou o mundo pela Cruz. A sua mortalha ficou no sepulcro.

PAI AMÉRICO, Notas da Quinzena, pg. 110-112.