DOUTRINA

Um donativo

Acho que deve ter sido a vista da fotografia do «Elvas» e do «Porto», descalços, tal qual apareceram em um dos últimos números d'O Gaiato. Deve ter sido, sim, este facto, junto à boa vontade de quem viu, que produziram a remessa de um cheque de cinquenta contos, de Alguém da Capital. «Vista e calce os seus rapazes.» Honra lhe seja. Vê-se nesta alma um hábito, uma aflição de dar. Nota-se aqui o amor do Próximo traduzido em português, que é a língua que nós falamos. «Tome lá.» Quantos não hão-de exultar ao lerem esta notícia, quantos! Não se lhes importa saber quem deu. Isso seria bisbilhotar. Basta-lhes saber que deram. Assim se dá glória ao Pai Celeste.

Sim. Amor do Próximo. Como pode alguém, em boa verdade, dizer que ama a Deus se não se dói do seu semelhante? Que outros preguem o amor de Deus, que nós pregamos aqui o amor do Próximo sem receio de errar. Porquê? São semelhantes. Um sem o outro não é amor.

Estes donativos são a realização exacta das promessas do Mestre e a afirmação da Sua presença real na terra que pisou. Eles não faltam. Não podem faltar. Quando éramos apenas três vadiozitos, naquele tempo, em Miranda do Corvo, tínhamos pão suficiente. Uma vez chegados aos trinta, havia de tudo. Somos hoje à beira de trezentos, temos o preciso. Quando formos três mil nada há-de faltar.

Não dependemos do Estado nem da Igreja nem do Povo. Estes podem ser instrumentos, mas o toque vem do Alto. Oh! mundozinho sem fé, quando te resolves a olhar para o maná que cai do Céu, em vez do milho que vem do chão?!

Era de uma vez um doente. Fui visitá-lo ao hospital. Estavam ali vários amigos a fazer a mesma coisa. Os jornais tinham anunciado por aquele tempo um subsídio de trezentos contos do Fundo do Desemprego. «Parabéns; V. é feliz. O ministro é seu amigo!»

O doente disse mais e disse melhor: «Não foi o ministro!» Há só uma força no mundo capaz de botar em terra uma Obra desta natureza, só uma: o pecado dos fundadores! Senhor Deus, misericórdia. A Vossa mão!

PAI AMÉRICO, Notas da Quinzena, 1986, pgs 121-122.