DOUTRINA
Quanta coisa boa apodrece no mundo!
Esteve aqui, há dias, de visita à nossa Aldeia, um Rapaz que foi outrora meu companheiro das Colónias de Campo, em Coimbra, berço da Obra da Rua. Era, ao tempo, estudante de leis. Hoje, é magistrado nas colónias do Império. A ausência não nos separou.
Ele tenciona casar-se. A noiva reside lá fora. Tem ordenado para um lar cristão. Tem algumas economias para as penas do ninho. Tem muita alegria de viver. É um moço saudável de corpo e alma. Era assim em Coimbra. Não mudou com a mudança. Quis-lhe sempre muito. Conversas, palavras, olhar - tudo limpo. Se alguma vez frequentava um baile com outros da Briosa, não perdia a Comunhão. O quê!? Um baile!? Sim. O pecado está no coração.
Deixemo-lo falar:
- Sabe?, tenho a minha vida equilibrada. O que ganho, chega. Se, às vezes, há qualquer necessidade maior, nesse mês aumentam os meus emolumentos.
Isto foi na varanda da casa-mãe. Horizontes largos. Ideais infinitos. Testemunho perene da liberdade dos filhos de Deus:
«À maneira que preciso, recebo».
Se fizer tão bem à alma dos leitores, como fez à minha a conversa deste Rapaz, bem empregado é o tempo que se gasta em transmitir. Eu chamo a isto a Boa Imprensa. Chamo a isto um jornal católico.
Para que havemos nós de ser desordenadamente solícitos do que se há-de comer ou do que se há-de vestir amanhã? Maná e cordonizes foram, um dia, alimento do povo de Deus. Todos os dias caía o suficiente para cada dia e cada homem. Se algum apanhava mais do que necessitava para aquele dia, derrancava-se-lhe o manjar. Não o podia comer, nem ele nem os mais. Apodrecia! Oh castigo do Céu! Quanta coisa boa apodrece no mundo! «Podre de rico» é uma expressão do nosso povo. Gosto muito dela. Faço-a minha.
PAI AMÉRICO, Notas da Quinzena, 1.ª ed., 1986, pgs 140-141.