DOUTRINA
Tristezas
Vinha a dizer um jornal que, há tempos, em uma catedral de França, mais de duzentas mil pessoas desfilaram perante quarenta caixões de branco onde estavam os cadáveres de outras tantas crianças, mortas num acidente no mar, se não estou em erro.
Oh! tragédia! Se chamam negra à morte que leva os homens, que se há-de dizer da que leva as crianças?! Duzentas mil pessoas choraram.
Ora eu tenho aqui uma estatística de Fevereiro do ano de 1946 a falar das crianças sem abrigo e de outras abrigadas, sim, mas órfãs de pais. Contam-se por milhões, as da primeira categoria! Alemanha: oito milhões. Itália: três milhões… — e tudo assim.
A estatística diz algarismos. Que diga o resto o teu coração, se és capaz de amar. Crianças que não brincam! Crianças à procura do sorriso da mãe! Eis a amargura. Crianças a pedir e a roubar. Eis a desgraça! Eu antes as queria chorar num caixão branco, mortas, do que sabê-las a morrer aos poucos e aos milhões pelas estradas fora.
Neste mesmo estudo do panorama social do mundo, vem a dizer que a Suíça está adaptando aldeias para os pequeninos sobreviventes. Não queremos «baraques; pas de tristes institutions». O autor descreve as instituições da aldeia, como as crianças ali vivem, o que é que elas ali fazem.
As Casas do Gaiato foram buscar à Suíça ou veio a Suíça a Portugal buscar às Casas do Gaiato? Nem uma coisa nem outra. Intuição — e está tudo dito.
PAI AMÉRICO, Notas da Quinzena, pg. 163-164