Homilia de D. António Taipa
1. A vida do homem acontece ou vai acontecendo entre uma recordação, uma memória, e um projeto, uma esperança.
Supõe um olhar para o passado que não é simplesmente fruto dum saudosismo mais ou menos estéril. Mas a busca da firmeza e da segurança necessárias para o lançamento e a construção do futuro que se projeta e procura.
2. Passado que se evoca ou que se olha na sua totalidade. Naquilo que foi de bom e menos bom. De vitórias e de derrotas. De realizações e sonhos. De caminhos que só Deus conhece. Mais ou menos duros. Mais ou menos tortuosos e tensos. Passado de homens e mulheres débeis, frágeis. De homens. De homens e mulheres que Deus conhece bem, que Deus muito ama, que Deus ama com a ternura do amor de mãe, na pobreza e fragilidade de todos e cada um. É grande e misericordioso o nosso Deus.
3. Passado que não dominamos em absoluto, mas que se vai dando a conhecer na profundidade da sua força significativa para o caminhar de cada um, exatamente nos passos seguros e firmes com que vamos construindo e realizando os nossos projectos e esperanças, a todos os níveis e vertentes.
4. Se o passado é a firmeza do futuro, e a sua segurança, vamos dizê-lo, é o futuro que progressivamente nos vai revelando a verdadeira dimensão daquilo que já foi. Projeção que nem nós atingimos até ao fim.
O homem supera-se permanentemente.
5. Trata-se de um caminho que atinge a sua meta quando se encontram passado e futuro. Quando, por isso, o tempo deixa de ser tempo. Quando tudo muda. Atinge a plenitude do ser. Será um mar de vida outra, nova. Absolutamente nova. Algo de inimaginável e indizível. É verdade.
Morte não significa acabar, mas cumprir, realizar e realizar a uma dimensão que só Deus conhece. E que só em Deus é possível.
6. Será a eternidade. Esse ponto sem princípio nem fim, sem passado nem futuro, em que o homem se encontrará mergulhado no imenso oceano do insondável amor de Deus.
É único este nosso Deus que se fez ver em Jesus de Nazaré. Na sua simplicidade e pobreza, nesse Jesus que desceu até à nossa pobreza para nos elevar àquela insuspeitada riqueza.
7. O passado que hoje evocamos, de que hoje queremos fazer memória, que hoje queremos trazer ao presente na construção do futuro que nos propomos, é uma pessoa, é o PAI AMÉRICO.
8. Um homem exatamente nas antípodas deste que nos mostra o Evangelho. Um homem livre. Livre em relação a tudo e a todos. Livre daquela liberdade dos apaixonados por Jesus. Era um apaixonado por Jesus. Duma paixão que alimentava com a permanente leitura do Evangelho. Há aquela sua frase que cito de cor "dizem que é perigoso um homem de um só livro. Pois sou ainda mais perigoso, porque o meu livro é o Evangelho que leio do princípio para o fim do fim para o princípio".
Se era neste Jesus que se encontrava na verdade de si mesmo, era também n'Ele que se sentia enviado para os homens. Para os pobres. Os esquecidos. A quem e por quem se deu.
9. Um homem, um sacerdote que assim antecipava esta urgência que vamos vivendo de regressar a Jesus. Que é preciso anunciar com novo ardor e entusiasmo, no desfio da Nova Evangelização, de São João Paulo II, que está no início do ser cristão e nos define e determina a vida, como escreveu Bento XVI, a quem precisamos de regressar, conforme convite do Papa Francisco. Esse Jesus que o nosso querido Bispo D. António Francisco, apresenta como meta do nosso caminhar e ponto de partida, na saída de nós para os outros.
D. António Taipa
Administrador da Diocese do Porto