MALANJE

Uma escola construída por todos nós

Manos Unidas aprovou o nosso projecto de aumentar cinco salas para aulas e uma para professores. No mês de Setembro recebemos a primeira parcela do orçamento para o início das obras.

Fiéis ao nosso lema: uma Casa de Rapazes, para Rapazes, pelos Rapazes; escolhemos a modalidade de auto-construção. Por isso, e com o apoio de um empreiteiro, pudemos participar na construção da mesma. Já construímos os alicerces e, agora, estamos a entulhar para podermos pôr o chão. Agora, é tempo de fabricar blocos para levantar as paredes. A maior felicidade não está só em atingir o destino mas, sim, sabermos desfrutar do caminho.

Ao mesmo tempo que nos alegramos de poder contar, no futuro, com novas salas, deparamo-nos com a triste realidade de que um bom número dos nossos professores falta muitas vezes e as crianças ficam dias e dias sem aulas ou simplesmente há disciplinas, como o Português ou o Inglês, que não têm professor; ou, ainda, situações como a daquele professor que nos últimos seis meses faltou injustificadamente 36 dias. Para conseguirmos superar estas deficiências, este ano tivemos de cobrar uma pequena contribuição aos pais dos alunos, para podermos contratar professores e superar estas dificuldades - até que o Governo dê uma solução.

Hoje, de manhã, com a escusa da chuva, só apareceu a professora da primeira-classe... até à sexta não tínhamos ninguém - e os alunos vieram todos. Tivemos de mandar alguns dos nossos mais velhos para os manter nas salas e dar-lhes algumas tarefas. Estas situações acontecem muitos dias; mesmo à tarde, com aqueles que estudam da sétima à nona.

Finalmente conseguimos mudar os telhados com a ajuda da Obra da Rua e, agora, estamos a mudar a instalação eléctrica, as portas e a pintura. São os nossos Rapazes com a orientação de um profissional. Seguramente continuaremos com os resto dos telhados, no próximo ano...

Muitas pessoas perguntam-nos como é possível, sem a ajuda do Governo, que consigamos empreender estas obras. Eu sempre respondo: «é obra daqueles que se fazem um pouco mais pobres, para outros serem um pouco mais ricos».

Em Casa não podemos viver sem olhar a Natureza. Ela é a Mãe que nos alimenta. As chuvas fizeram germinar o capim e anunciaram-nos que era tempo de semear. Os nossos tractores já prepararam os terrenos para o milho. Agora, é tempo de ajudarmos nas lavras do povo camponês. Mais de 400 famílias esperam que os nossos tractores lhes preparem um pedaço de terra para cultivarem a sua mandioca... O ano passado cultivaram apenas 80 hectares - para um povo cheio de fome!...

Despedimo-nos com a alegre notícia de que alguns enfermeiros foram detidos por venda de medicamentos no hospital. Esta prática é muito comum: muitos médicos e enfermeiros dizem não ter medicamentos para poder atender aos doentes mas, depois, eles mesmo vendem ou mostram que os têm - medicamentos que são do próprio hospital...

Padre Rafael