MALANJE
Tio Capuchinho foi catequista geral durante muitos anos, e só deixou de exercer, faz uns anos, quando se separou da sua esposa e teve alguns problemas de saúde. Ainda recordo que no ano passado, me disseram que estava muito doente na sua aldeia. Fui buscá-lo no carro e tivemo-lo em Casa até recuperar a saúde. Todos os Domingos, vinha à Casa do Gaiato para receber alguma comida, e quando me encontrava, sempre me cantava uma canção da Missa em Kimbundo (idioma tradicional) e depois uma história do tempo colonial.
Anteontem vieram alguns velhinhos da sua aldeia, dizer que havia falecido a noite passada... vivia sozinho. A maior preocupação era o caixão para o funeral, do resto se encarregavam eles. Aqui não é costume que o padre faça as exéquias, quando alguém morre, normalmente é o catequista — mas desta vez fui eu que lhes pedi.
Nestes últimos anos, estamos a assistir a uma degradação generalizada em todo o País.
Nos hospitais não há condições, nem medicamentos - tudo quanto necessário é preciso comprá-lo na farmácia... até as luvas de plástico.
Nas escolas faltam os professores e as famílias vêem-se na obrigação de pagar para poderem contratar professores que cubram as disciplinas que não têm. Praticamente não há trabalho, e muita gente se dedica a comprar e a vender para ter algo que comer nesse dia.
Capuchinho já não está connosco, mas as suas canções continuam a ressoar em mim.
Padre Rafael