MALANJE
Regressávamos da fazenda no carro quando encontrámos duas idosas no meio da estrada. Uma delas conseguiu afastar-se rapidamente, mas a outra não o conseguiu. Depois de várias tentativas e afastando-me do caminho, passei e vi seu rosto totalmente exausto. Sua pele curtida por tantos anos de penúria, seus olhos cheios de lágrimas que não paravam de escorrer e sua voz sussurrava canções em quimbundo. Parei o carro e pedi ao tio Joãozinho que as ajudasse a subir com os tambores. Depois de tantos anos, continua a impressionar-me o número de idosos que têm de sair todos os dias para o campo, caminhar horas e horas para encontrar um pouco de comida na Mãe Terra. Há anos, o Governo prometera uma pequena pensão aos maiores de 65 anos, mas até agora - nada. Esta terra está cheia de promessas enterradas.
Hoje despedimo-nos do «Bolotas» que faleceu no Hospital. Ingressou na nossa Casa do Gaiato em 1992, logo após o início da guerra. Desde pequeno, como diz Padre Telmo, era muito tranquilo e deu muito trabalho. Quando o conheci, havia saído recentemente da prisão e ajudamo-lo a tratar do seu documento de identidade. Durante um par de anos trabalhou em Casa e parecia que a prisão lhe fora lição de vida. Não tardou muito e voltou às mesmas andanças e assim a sua vida foi um ir e voltar contínuo. Nos últimos anos, foram-lhe detectadas várias enfermidades que o levaram ao Hospital e depois de várias tentativas para o recuperar, chamaram-me para me falar. No Domingo rezámos o Evangelho do Filho Pródigo e seu regresso a casa do pai, e com esta leitura recebeu os santos óleos. No dia seguinte, chamam-nos para nos dizerem que já estava na Casa do Pai. Nossas Casas do Gaiato estão cheias de histórias e, estas mais tristes, muitas vezes não as contamos, simplesmente as carregamos e continuamos. Descansa em Paz.
A construção das salas do Centro de Formação Profissional Básico estão com a primeira fase praticamente concluída; apenas falta colocar o tecto. Depois, começaremos por acondicionar as salas no seu interior. Ontem, recebemos a inspecção educacional que nos deram os parabéns e nos incentivaram a fazer o possível para abrir as salas no próximo ano lectivo. Nesta segunda fase, vamos precisar da vossa ajuda para as equipar com os móveis e os materiais. Por isso, contamos com a vossa generosidade.
Padre Rafael