MALANJE
Necessito de tempo para pensar, meditar e rezar. A vida da Casa absorve-me de tal maneira que os dias passam e caio em modos de actuar mecânicos, sem ter em conta a repercussão dos meus actos nas pessoas com quem vivo diariamente.
Necessito de tempo para contemplar e saborear a beleza do quotidiano e a vida que se me oferece em cada instante. Descobrir que nada há no centro do mundo, que tudo está girando continuamente e avançando eternamente.
Necessito de tempo para o dedicar a esta Obra da Rua que conseguiu conquistar o meu coração e a quem ofereci a maior parte dos meus anos de sacerdote. Tempo para tentar descobrir qual a vontade do Bom Deus para ela e como posso colaborar para a sua propagação.
Necessito do outro para não cair na soberba daquele que se crê na verdade absoluta; do outro que me questione e me ajude a abrir novos caminhos; do outro que tenha coragem de enfrentar novos desafios; do outro que não se conforma em apenas deixar as coisas estar como estão.
Necessito escutar esta família que é a Obra da Rua: padres, mães, filhos, netos, amigos colaboradores... para entre todos nos perguntarmos que faria Padre Américo neste tempo. E necessito-o porque sei que o tempo se nos escapa e não quero que me tire, para enterrar na terra, este tesouro que Deus me entregou.
Ontem faleceu um sacerdote irmão que sempre pensei que era um desses padres da rua que sem o saberem vivem a espiritualidade do Padre Américo em sua radicalidade. E ressuscitou em mim essa necessidade de não deixar fugir o tempo e promover a vocação da espiritualidade do padre da rua. Recordou-me que estamos num processo sinodal um pouco esquecido onde entre a comunicação e a missão, o Papa Francisco colocou a participação.
Necessito que nos necessitemos e não FAÇAMOS de cada Casa um pequeno castelo, pois todos saímos, como se diz em Angola, da mesma barriga, A OBRA DA RUA.
Padre Rafael