MALANJE
Não há pecado dentro da Igreja que não exista fora, simplesmente porque são as pessoas que compõem as instituições. É verdade que ninguém gosta de ver uma pessoa defender de capa e espada um ideal e, depois de um tempo, vendê-lo por algumas moedas; na Igreja, temos o exemplo de Judas que se vem repetindo ao longo da história. Portanto, é bom deixar de lado os puritanismos, pois todo pecado ou maldade ou como queiram chamar nasce do coração da pessoa, e nem o mais pintado se livra disso.
A autocrítica é um dom que nem todo ser humano tem, pois tem de ser conquistado ao longo da vida. Ninguém gosta deste exercício porque às vezes se abalam os fundamentos ou princípios que se descobrem como errados. A autocrítica numa instituição pressupõe a soma dos anteriores menos aqueles que acreditam na verdade absoluta e não a aceitam, e que geralmente é negativa. A autocrítica colectiva ou institucional só acontece tristemente quando surge um desastre, às vezes irremediável.
A Igreja tem a sua missão no mundo que nada tem a ver com a do Estado. De tal forma que para alguns a Igreja deve se preocupar com os aspectos espirituais deste mundo e da vida eterna; e o Estado dos aspectos materiais e desta vida. É nessa parte que não concordamos porque Jesus também não aceitou essa premissa.
Para a Igreja, a vida eterna e esta que vivemos é uma só vida em primeiro lugar. Assim como o que fazemos hoje afecta o futuro, a vida de hoje afecta a vida futura. Além disso, todo cristão, pelo simples facto de ser humano, não gosta de ver as pessoas sofrerem e faz todo o possível para melhorar a qualidade de vida dos outros. Cristo prometeu um céu que começou na terra e milhares de cristãos nos lembram disso ao longo da história.
Portanto, que cada um de nós faça uma autocrítica pessoal e institucional e pare de fazer poeira com guerras que não interessam a ninguém. Hoje o mundo continua sofrendo e quanto mais mãos estiverem ajudando, melhor. O Estado deve facilitar coerentemente o trabalho da Igreja para melhorar a sociedade que o elegeu. A Igreja também deve, por coerência, deixar-se questionar pelo Estado, que representa todos os cidadãos. E ambos devemos servir ao bem comum, especialmente aos mais desfavorecidos e excluídos.
Padre Rafael