MALANJE
Há alguns meses, vieram, dos Assuntos Sociais, pedir uma entrevista com os menores de 12 anos. Entre outras coisas, queriam saber quantos deles eram órfãos. Informamos que eram cerca de 15 e mandei-os ao escritório onde estão as fichas dos rapazes com os dados pessoais e a informação de como vieram para a nossa Casa do Gaiato. Depois, informei que era muito difícil saber a verdade sobre a situação familiar de cada um deles e que, muitas vezes, somente a partir dos 14 anos conseguíamos averiguar a sua realidade familiar.
Quando terminaram, as funcionárias sociais voltaram à conversa comigo, dizendo que o meu arquivo teria de ser actualizado, pois nele apareciam 14 rapazes órfãos e elas encontraram 38, entre os 43 rapazes com menos de 12 anos. Fiquei surpreendido e chamei um, dos que sabia ter pais, e interroguei-o sobre ao assunto, ao que me respondeu que a maior parte deles se pusera de acordo para dizer que eram órfãos, pois alguém lhes dissera que se dissessem que tinham pais, os levariam da nossa Casa e os entregariam a famílias de acolhimento. De seguida, peguei na mão do «Batatinha» e disse-lhe que não era bom mentir, pois a mentira tem pernas muito curtas e, mesmo que ande rápido, avança muito pouco, mas a verdade tem umas pernas muito grandes e em pouco tempo alcança a mentira... e esta se fica, envergonhada.
Há pouco tempo, fui visitar uma família que vive numa casa de barro. Afinal, a casa tem 3 quartos e em cada quarto vive uma família... e cada família tem 3 ou 4 filhos. Fazendo as contas, eram 18 pessoas, as que viviam na casa, e eu levava comida para 6... Mas o melhor é que fizeram comida para todos e mesmo os vizinhos, amigos das crianças que por ali apareceram, comeram também. A realidade que ninguém quer ver, é que mais de metade da população come apenas uma vez ao dia - para não dizer que há outros que comem dia sim, dia não.
Brevemente vamos começar as obras de reabilitação dos telhados das nossas Casas, com a ajuda da Obra e o trabalho dos nossos rapazes, vamos tentar fazer o máximo. Como dizia Pai Américo «poupar, poupar, e depois, poupar»..., o pouco-a-pouco se faz muito. Primeiro, vamos começar pelo Posto de Saúde; depois, a casa das Irmãs; depois, a casa 2, depois... depois... até onde chegar.
A Obra da Rua abriu um novo site: www.obradarua.pt. Nele, podes inscrever-te como assinante do Jornal O GAIATO em versão digital gratuita e conhecer a Obra um pouco mais.
Padre Rafael