MOÇAMBIQUE
É tempo de Páscoa. O Cristo Ressuscitado nos dá coragem para os momentos difíceis. O nosso querido Francisco Gimo foi chamado para junto do Pai. Tinha 14 anos de idade. Era portador de doença crónica. No dia 1 de Maio, fomos sepultar o seu corpo junto dos pais no cemitério da Matola. Tudo muito rápido. A sua família não queria incómodos. Os rapazes saíram tristes pela indiferença daqueles que se diziam seus familiares. Saíram da Casa do Gaiato com mensagens, canções e ansiosos para fazer a despedida, mas não lhes foi concedido tempo para o fazerem. O Francisco era um menino que assumia o sofrimento no silêncio. Gostava de brincar com todos e nunca manifestava a sua tristeza para os demais. No dia 6, Deus chamou para junto de Si outro dos nossos rapazes, o nosso querido Mateus Armindo. Muito querido por todos e com muita vontade de viver. No Hospital já era muito conhecido, não só pela sua permanência mas principalmente pela sua capacidade de ajudar os outros doentes, quando se sentia melhor. O seu estado era grave e precisava fazer uma cirurgia. A caminho do bloco operatório, acompanhado por um dos rapazes, brincava com quem passava e quando lhe perguntavam se queria fazer a operação, com muita alegria e convicção Mateus respondia: "Está aí a minha vida! Eu quero viver bem". Foi este o seu adeus aqui na terra. A quem o conheceu, o seu olhar era uma porta aberta para o mundo em que vivemos. Chegou a nossa Casa, vítima de maus tratos dos seus familiares. Na hora da despedida, apareceu o seu pai e a sua mãe, como se o Mateus já não existisse há muito tempo. Ficou sepultado no cemitério da aldeia de Massaca. O pai perguntou se podia visitar a sua campa, logicamente dissemos que sim, mas os nossos corações lamentavam que ele não tivesse sido capaz de ter dado carinho ao seu filho em vida. O Francisco e o Mateus continuam presentes nos nossos corações. Todos os dias são lembrados pelos rapazes. Com estes acontecimentos aproveitamos para renovar a nossa Fé e Esperança no Cristo Ressuscitado.
Tem sido uma aflição para acudir a tempo e horas à saúde dos rapazes e dos que estão a nossa volta. Temos uma ambulância há mais de 10 anos que presta serviços à Casa do Gaiato e às Comunidades que nos rodeiam. No mês passado teve uma grande avaria e encontra-se parada na oficina e não sabemos até quando. Quem nos dera que alguém ouvisse o nosso grito de Socorro. Actualmente são 152 rapazes e 62 estão fora a continuar os estudos que dependem totalmente da Casa. Só em Deus colocamos a nossa confiança pois sabemos que Ele nunca abandona os que o amam.
Quitéria Paciência Torres