O GAIATO digital

Inserir subtítulo aqui

Edição de 17 de Março de 2018 : Ano LXXV : n.º 1931


ERA O ANO I, N.º 2

Um Episódio 

A caminho de Lisboa encontramos, prostrada à porta da igreja dos Congregados, uma criança da rua. Eram duas da tarde. Passa o turbilhão daquela hora e daquele lugar. Gente piedosa entra e sai do templo, não se podendo bem afirmar, se será capaz de compreender o Jesus do Altar, quem o não viu à entrada pequenino, estendido com fome!

Tomamos o garoto debaixo da capa e fomos por ali fora até um Restaurante.

— Que não.

— Oh, meu senhor, toda a casa é própria para dar de comer aos famintos!

— Xá dixe. Aqui não se dá de comer a ESSA GENTE.

E ele estava a comer!

Saímos ambos. Perto há uma tasca. Enquanto atravesso a rua, amaldiçoei o espanhol e disse para os meus botões que na hora derradeira, diante do Tribunal de Deus, a causa «daquela gente» há-de ter melhor e mais fácil defesa do que a nossa!

Sentamo-nos. O catraio comeu, e comeu, e comeu. «Basta, meu filho, que te faz mal».

Eram horas do Rápido; tinha de me ir embora. Tempo e marés não esperam. O Pequenino fez-me uma ferida no coração que sangrou toda a viagem!

Dias depois, vai o nosso Manuel ao Albergue Distrital, buscar pequenos da pedincha das ruas. Trouxe cinco. Era noite. Estávamos todos a cear no imenso refeitório dos frades. Há dois focos de luz.

Acolhimento fervoroso. Espanto. As perguntas faíscam.

Nisto, um dentre os recém-chegados, levanta a mão, aponta a mesa do fundo e grita:

— Oh, rapazes; aquele senhor deu-me de comer!

Tinha-me feito uma ferida no coração. Veio curá-la, com pena de mim!

Pai Américo


PENSAMENTO

Os pobres têm a intuição do Divino. A fé desta classe de pobres, não tem sombras nem conhece dúvidas (...) é impossível que não viva unicamente do amor de Deus, quem não tem mais nada de que viver.

O Gaiato, n.° 152. p 1.

PÃO DE VIDA

Aviso seguro

«… Vem mesmo a talho de foice a perspicácia de Pai Américo, na leitura dos sinais do seu tempo, bem como a previsão de penas para as quais nos preveniu. A coluna sucinta que deixou, publicada em 22 de Janeiro de 1949 (!), sobre esta matéria, dá mesmo que pensar e visava prevenir e encorajar. Tem um título sugestivo, de facto: PREVENÇÃO — Falo aos vindoiros. Aviso; previno os vindoiros: se alguém se propuser erguer obra social no seu País, que o faça com recta intenção, senão, desanima e deixa cair tudo…»

Padre Manuel Mendes


PATRIMÓNIO DOS POBRES

«… Encontrei também uma pobre viúva com a sua moradia assaltada pelo telhado. Os ladrões partiram as chapas de lusalite em dois lados, fizeram dois largos rombos e entraram, assim, para realizar o assalto.

Toda a água do telhado caía em casa. Estava tudo encharcado, móveis, sofás, camas, roupas. Era um dó!

«Se eu lhe valia que ela não era capaz.» Ainda ralhei: — Então você tem isto assim desde o Verão e, só agora, neste temporal, vem pedir auxílio?!…»

Padre Acílio


DA NOSSA VIDA

Para servir os Pobres

«… Tal como hoje e no passado, teremos novas bênçãos Suas no futuro, que replicarão os frutos que esta Sua Obra gerada no coração de Pai Américo vem produzindo ao longo de décadas, porque Obra humana com sabor divino.

Com Padre Fernando, que agora começa um modo diferente de exercer o seu sacerdócio nesta missão especial que é a dos Padres da Rua, alegremo-nos e continuemos a pedir luz e coragem para os trabalhos que as realidades do mundo nos apresentam e que somos chamados a dignificar …»

Padre Júlio

Moçambique: Vieram pelo seu pé pedir para ficar
Moçambique: Vieram pelo seu pé pedir para ficar

MOÇAMBIQUE

«… Tivemos que pedir ajuda ao grupo de chefes. Todos, após ouvir a história de cada uma, diziam que eles deveriam ficar, mas não nos podemos deixar levar só pelo coração. Desta vez, ficou o mais pequenino, Rafito, de 3 anos, com o seu irmão Denire, de 10 anos, e o Mário, de 7 anos. Os outros, foram acompanhados pelos nossos chefes, para sentirem o ambiente onde eles vivem. Voltaram angustiados, pois precisam sair daquele ambiente o mais rápido possível. Estão ali há mais de 2 anos. O número de crianças em situação de risco tem aumentado assustadoramente…»


BENGUELA

Caminhos…

«… Foi um encontro lindo, participado pelo povo simples, pais e mães que escutaram as palavras que apontavam o caminho certo para seguir, de mãos dadas com os filhos. As autoridades maiores do Bairro estavam também presentes. A nossa Casa do Gaiato de Benguela está situada dentro das linhas marcantes do Bairro de Nossa Senhora da Graça. Que o Grupo Comunitário continue a ter muita coragem, para levar por diante o projecto de promoção social que assumiu, animado pelo Grupo dos Leigos para o Desenvolvimento…»

Padre Manuel António


VINDE VER!

«… O desenvolvimento das famílias, das comunidades mais abrangentes, da própria Nação está dependente da qualidade da educação dos seus membros ou associados. Na base da construção dos actores sociais de todos os sectores da administração pública, encontra-se o professor. É este profissional que segura a escada para que outros, de diversas áreas, possam subir. A sociedade pouco reconhece o professor. O senhor Ministro esquece-se de que foi por ter passado por vários professores que hoje tem esse posto de destaque…»

Padre Quim


SETÚBAL

O contentor foi de Setúbal para a Casa de Moçambique
O contentor foi de Setúbal para a Casa de Moçambique

«… O grande armazenista de tecidos, desafiado a ter de queimar o conteúdo arrecadado nas longas e altas prateleiras, homem de coração generoso, ficou imensamente feliz ao saber que, as quatro carradas da nossa camioneta do seu armazém de roupa por confeccionar, iriam aquecer e cobrir os corpos esqueléticos de mulheres e homens de Moçambique, que vivem nas muitas aldeias à volta daquela Casa. Tudo embalámos em sacos grandes de plástico preto, enfiando em cada um, três ou quatro rolos de tecidos, conforme a sua grossura o permitia…»

Padre Acílio


CONFERÊNCIA DE PAÇO DE SOUSA

«… É verdade que o país já não é o que era há 50 anos atrás em termos de pobreza. É verdade que as estatísticas sobre a pobreza e as desigualdades sociais, continuando a colocar Portugal na "Liga dos últimos" na União Europeia, registaram algumas pequenas melhorias nos últimos anos. O que também é verdade é que no trabalho dos vicentinos e de todos os que se preocupam em fazer com que todas as pessoas possam viver com dignidade, o que conta não é o que as aparências, ou as estatísticas mostram, mas sim as pessoas, cada uma das pessoas que esteja em situação de privação de condições para ter uma vida condigna…»

Américo Mendes

Pelas CASAS DO GAIATO

O «AVOZINHA»

Faleceu, há dias, o «Avozinha». Era o Domingos José Anjos. A notícia chegou-nos através de um filho. Tinha 84 anos e entrou neste Casa do Gaiato em Dezembro de 1943.

Foi meu companheiro no Lar do Porto. Trabalhou numa confeitaria na Rua Santa Catarina. Regressou a Paço de Sousa, aprendendo a profissão de tipógrafo. Durante uns anos trabalhou na nossa Oficina, e era elemento activo da nossa Conferência Vicentina. Foi entretanto para Angola e perdi-lhe o rasto. Soube depois que vivia em Viseu.

Há anos, e de passagem por aquela cidade, abracei-o com muita amizade. Ele sempre "guloso" em saber notícias da nossa Casa do Gaiato e da nossa Obra!

Que o Senhor lhe dê o descanso eterno e que goze a Sua paz.

Manuel Pinto


MIRANDA DO CORVO

Agropecuária — Arranjos — Visitantes e partilha — Saúde — Reunião dos Padres da Rua

Rapazes de Miranda


LAR DO PORTO

«… A nossa vida é uma passagem na Terra, sejamos inteligentes, temos de ter confiança em nós, sabermos ultrapassar as dificuldades que, por vezes, são difíceis, mas não impossíveis, temos de ter fé em Deus, porque não estamos sozinhos, só que, às vezes, estamos distraídos e não ouvimos o nosso coração e tomamos as atitudes erradas, mas, estas, também nos dão lições de vida, porque da próxima tentamos corrigir-nos e seremos diferentes…»

Adelaide e José Alves


PAÇO DE SOUSA

Desporto — Campo — Museu — Dança

Daniel Pina


BEIRE

Há envelopes que falam alto…

«… O envelope foi entregue em mão ao P.e Telmo. A letra é-me familiar e eu ainda vejo a mão que o escreveu. Já meio trémula, pelo peso dos anos - a ultrapassar os 90. Leio: "De migalhinhas se fazem migalhas que dão pão... De um anónimo gaiato". Depois, como que em rodapé, e entre parêntesis: "De longe a longe, tenho feito outras migalhas, que entreguei em mãos a P.e Baptista". Sei que é verdade. Volta e meia, P.e Baptista, com justificado orgulho, refere que muitos antigos gaiatos nutrem pelo Calvário uma particular devoção. E relata visitas que recebe, donativos que lhe chegam. Pudera…»

Um admirador