O GAIATO digital
* Varanda ancestral da Casa do Gaiato de Beire *
Edição de 12 de Maio de 2018 : Ano LXXV : n.º 1935
«QUANDO SERVIR É AMAR»
A Editora Modo de Ler publicou recentemente uma pequena brochura intitulada «Quando servir é amar», da autoria do nosso Padre Baptista e com posfácio de Henrique Manuel Pereira. Quem desejar, poderá obtê-la gratuitamente na livraria da Modo de Ler, na Praça Guilherme Gomes Fernandes — Porto.
Era o Ano I, n.º 6
O gaiato das ruas é um ser àparte; ele é como que o mestre do seu educador — anda o carro diante dos bois. Sem ele se abrir, não se sabe como, quando, nem por onde lhe havemos de pegar!
Métodos, falham. Esforço, naufraga. Só a pedagogia do amor: amor de família. Respeita-se. Lapida-se a sua personalidade, sem pretender modificar, muito menos destruir. Ele há-de achar-se. Ele há-de dar fé. Nós respeitamos. Um caso: O Zé Maria, da Covilhã, quis um dia fugir. Era dia de feira na vila. Ao fundo da quinta, passam magotes. Ele recorda; tem saudades. Caminha. Andou por lá o dia inteiro. Mendigou tostões como dantes - era pedinte de feiras! Alta noite regressa com a boca suja das amoras que comeu. Bate à porta, aparece o cozinheiro:
— Ó rapaz, vai-te lavar e anda comer.
— Estou arrependido - disse - hoje não o faria!
Isto é uma clareira; uma afirmação da Obra. São pedras imensas, vivas, com que construímos. Um beijo na face desta criança das ruas, é o selo branco de perdão e de redenção, em maré de confidências. Respeitamos a personalidade. Deixámo-lo matar saudades na feira. Ele regressa e dá fé do mal; acha a consciência!
Pai Américo
PÃO DE VIDA
Do Mondego ao Sousa
«… Entretanto, chegou a notícia triste da partida do pequenino Alfie, em Inglaterra, cuja Justiça (?) não ouviu os apelos autorizados do Papa Francisco, que sublinhou os limites das Ciências: nem tudo é eticamente aceitável. Na verdade, os cristãos não podem pactuar com o desrespeito pelo tesouro da vida humana e não devem ter medo de afirmar e esclarecer, alto e bom som, o que é claríssimo, da Biologia à Teologia: a vida humana, fruto do amor do homem e da mulher, é única e tem valor inalienável em todas as suas fases, desde a concepção à morte natural…»
Padre Manuel Mendes
PATRIMÓNIO DOS POBRES
«… Enquanto trato desta morada e me enlevo nela, penso noutras famílias, que vivem em condições piores que o nosso gado e não têm para onde ir, nem vislumbram sinais de esperança. As rendas sobem, enquanto os ganhos são os mesmos, e quem não paga só tem um sítio: a rua ou uma barraca em terreno baldio.
É o caso de um casal que aqui veio bater e a quem recomendei que fosse ter com o seu pároco. Se ele não puder, que vá, ao menos, certificar-se da sua situação e, depois, escreva-me…»
Padre Acílio
SINAIS
«… Um gaiato amigo, com sua esposa, encontraram-me na avenida da nossa Casa - casa onde ele cresceu. Só nós na grande avenida. Longe os carros de rolamentos na corrida por ela abaixo... Nem um visitante! Silêncio nas casas... Só nós e uma leve brisa nos plátanos folhudos.
As crianças em abandono são colocadas em lares de acolhimento. Temos que nos virar para os velhos. Imagina os velhinhos nos seus carrinhos de três rodas pela avenida abaixo... Milagres das casas de acolhimento…»
Padre Telmo
DA NOSSA VIDA
«… Ainda há dias alguém falava da brevidade em que Pai Américo fez a Obra da Rua, nos seus últimos dezasseis anos de vida, depois de outros onze já padre e de outros quarenta e dois (muitos deles que chamou de "anos perdidos"). O imperativo AMA, com toda a verdade no seu nome, acompanhou-o na vida…»
Padre Júlio
BENGUELA
Queres ser verdadeiramente feliz…
«… Deste modo, parte da multidão de pedidos para o acolhimento de filhos abandonados terá a sua resposta consoladora. Aguardamos a hora com muita esperança. A actividade escolar continua muito viva, no cumprimento do seu programa. Neste momento, estamos na fase das provas escolares. Há, sem dúvida, uma aplicação mais intensa do tempo de estudo preparatório. Desde os mais pequeninos aos filhos mais crescidos aumentam os cuidados dos responsáveis. É impressionante a multidão de crianças do exterior da nossa Casa do Gaiato…»
Padre Manuel António
Simplicidade e alegria dos nossos gaiatos de Moçambique
VINDE VER!
O trabalho
«… A Casa do Gaiato, desde o seu nascimento, é uma casa de educação ao trabalho. Desde os primeiros dias, depois da entrada do rapaz na aldeia, é-lhe atribuída uma tarefa. A chamada obrigação, que é diária. Horas para estudar e horas para realizar tarefas práticas, nos mais diversos sectores da vida de Casa. E, se há alguma pérola de grande valor, que um rapaz pode levar consigo como uma verdadeira herança, é precisamente o trabalho. E mais do que o trabalho — o amor ao trabalho acima de tudo…»
Padre Quim
SETÚBAL
«… Todos os rapazes, que ao chegar, não gostavam de favas, passados poucos meses, começam a apreciá-las. Até pessoas que nunca comeram favas e pensavam não gostar delas, ao provarem as nossas, descobrem que, afinal, as favas do gaiato são uma comida agradável e boa, perdendo então a ideia de que a fava, não é, nem fora, alimento humano.…»
Padre Acílio
Pelas CASAS DO GAIATO
BEIRE
Os mini-stérios no Calvário / Beire…
«… Pois sim. Se é verdade que ainda há "rigoristas" que pensam que "na Igreja só os padres é que devem falar", cada vez há mais sacerdotes que, "tocados pelo Espírito de Deus", vão acordando os leigos para a sua obrigação de se prepararem para também eles poderem testemunhar-se no seu mini+stério. Isto é, mostrarem-se preparados e disponíveis para aqueles Serviços que, com padres ou sem eles, é necessário manter vivos para a manutenção e avanço de qualquer comunidade cristã…»
Um admirador
ASSOCIAÇÃO DOS ANTIGOS GAIATOS E FAMILIARES DO NORTE
22 de Abril de 2011, falecimento de Padre Carlos — Comemorações do 25 de Abril — Passeio anual
«… No dia 25 de Abril e a partir das 14.30h como vem sendo habitual já há alguns anos, actuamos na nossa freguesia de Paço de Sousa, do concelho de Penafiel, no Largo Gamuz, junto ao imponente Mosteiro românico. O reportório oferecido foi idêntico, este com a particularidade de ser ao ar livre e termos a visita de actuais e antigos Gaiatos que vêm ver a Tuna Musical actuar e confraternizar. No final tivemos merenda partilhada com os presentes, havendo no primeiro a colaboração da Junta de Freguesia.
Queremos continuar a caminhar Abril, neste Portugal que se quer mais justo e unido, sem nunca esquecermos aquele conselho de prevenção que um dia Pai Américo deixou registado em "Notas da Quinzena": «Sê livre, mas não sejas libertino!»…»
Elísio Humberto