O GAIATO digital

* Encenação dos doentes do Calvário (Carlos e Alice) *

Edição de 22 de Dezembro de 2018 : Ano LXXV : n.º 1951


O nosso Calvário

«… No Calvário, cada padecente vive, «levando a sua cruz sem a arrastar».

O mundo quer outra coisa... Fomos visitar alguns dos nossos doentes nos lares onde foram colocados. Que diferença! Simplesmente objectos. O mundo não sabe nem quer fazer melhor. É que o homem quer viver! Quer ter família! Quer participar na vida da comunidade, ainda que não faça tudo bem.

Nós queremos que o doente seja feliz. E só pode ser feliz se se sentir livre, amado e em sua casa. No Calvário esta é a base da vida…»

Padre Júlio

Calvário:

Beleza, vida, família


INQUIETAÇÕES

«… Aproveito esta oportunidade para me solidarizar convosco pelo assalto e roubo efectuado no nosso Calvário. Sim, porque o Calvário é nosso e muito nosso. É dos nossos irmãos doentes, inválidos, abandonados e que lá encontram tudo o que as entidades governativas lhes negam, incluindo a instituição em nome da qual efectuaram este roubo…»

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SINAIS

A nossa Maria do Carmo, no seu carrinho de rodas, tem feito de mãe. Ao seu lado, também num carrinho pequeno, a Luísinha, a quem pus o nome de "Princesa" - Mãe e filha - não de ventre, mas de coração. Este amor, mãe e filha, vale mais que muitas obrinhas, na confusão do roubo, as senhoras assistentes sociais levaram a mãe Maria do Carmo e deixaram a filha Luísinha. Choram, agora, uma pela outra... Como? Foi.

Deixem vir a Maria do Carmo para junto da sua filha. Onde vivem, há muitos anos, talvez não seja tão vivo o calor das paredes, mas sobra o calor humano.

Mãe-Filha, um grande amor! Não cortem. Deus não quer. Deixem vir Maria do Carmo.

Padre Telmo


SETÚBAL

«… Apeteceu-me mandá-los à Segurança Social do Porto, tão solícita com os nossos doentes do Calvário... Tratados pelas senhoras doutoras como se fossem gado que muda de um estábulo para o outro. Pior ainda que gado. Os animais têm de levar uma guia assinada pelo detentor e pelo receptor... Ali, não... nem sequer o processo clínico dos doentes. Foi chegar... E isto é tudo nosso....»

Padre Acílio


BEIRE

Um flash feito de lágrimas…

«… Paro-me com a Luísinha, enroscadinha na sua cadeira de rodas, a fazer e desfazer um novelo de trapos. Tristita, a chamar pela Carmo. Era 'a mãe' que sempre cuidava dela. - Sabes uma coisa, dr Abélio? A Lala foi lá ver a Carmo e as oitras, a Alice; ah, e a Bela e a Rosa. Ela disse que elas choram como um menino, tás a ver?!. Não querem estar lá. Querem vir para o Calvário. Quando vais buscá-las?!...»

Um admirador


ERA O ANO I, N.º 22

«... Eu não era ladrão mas os outros encaminhavam-me para ir roubar. Andava às malas na estação para ganhar dinheiro, e o dinheiro que me davam dava-o à minha mãe que ficava toda contente. Umas vezes ia para a igreja de lá da terra para a beira da porta onde uma senhora pedia para a creche e ela ia dar a sopa para a casa da Sr.a D. Maria Leonor e eu aproveitava essa ocasião para ir roubar o dinheiro e ia para Espinho gastá-lo. Uma vez eu e o Chinês fugimos para Espinho, comer arroz e beber vinho...»

Pai Américo




Família

Uma quinzena gaiato, pra sempre gaiato!

Como é bom ser Família Pai Américo!

Rezar todos os dias com os nossos rapazes, trabalhar e cuidar da nossa Casa, partilhar os alimentos, cuidar uns dos outros, torcer e cuidar da nossa equipa de futebol...

Como é bom ser Família gaiato!

Padre Lacerda


DA NOSSA VIDA

Luzes e sombras de 2018

«… Cumpriu-se a Providência de Deus, mas os homens podem alterar-Lhe o rumo. Isso mesmo sucedeu. Foram tais os obstáculos que nos puseram na Casa que o nosso Padre José Maria construiu, com a ajuda de tantos Amigos da Obra da Rua, que o nosso pensamento, da entrega da responsabilidade dessa Casa ao Padre Fernando, caiu por terra...»

Padre Júlio


PÃO DE VIDA

Um Natal mais pobre

«… Neste momento, sobre as irmãs e os irmãos mais débeis da Obra da Rua - doentes do Calvário - separados do seu lar, podemos dizer, como o transmontano Padre João Parente, nestas horas tão crucificantes para eles e quem os ama: Mas, Senhor, é nas pessoas que te fazes sacramento. E, sendo Amor, te magoas, quando as vês em sofrimento. O Natal deste ano, depois do tempo incerto da partida inesperada de Pai Américo (1956), é assim uma quadra mais triste e pobre…»

Padre Manuel Mendes


ASSOCIAÇÃO DOS ANTIGOS GAIATOS E FAMILIARES DO NORTE

«... duas medidas»

Vimos desejar FELIZ NATAL

A todos que não querem mal

À Obra que Pai Américo fundou!

E revoltados, dá-nos desdém

A quem não sente Amor por alguém

E até o Calvário roubou!

Elísio Humberto

BENGUELA

Estamos no Advento...

«… Há poucos dias, veio um telefonema duma senhora, nossa querida amiga, há vários anos, a comunicar-nos que tinha depositado seiscentos e cinquenta mil kwanzas, para ajudar a Casa do Gaiato de Benguela. É o coração generoso e cheio de amor para com estes filhos da nossa querida D. Leonor. É um coração verdadeiramente maternal dos filhos acolhidos e criados na nossa Casa do Gaiato de Benguela. Este gesto tem sido frequente. Sem estas ajudas não seria possível a nossa vida. Temos aqui uma fonte de esperança que nos dá alegria e coragem para o caminho futuro. Este é um auxílio extraordinário…»

Padre Manuel António


VINDE VER!

Advento

«… No seio dos rapazes expectativas crescentes e ansiedade à mistura sobre quem será escolhido para acender a primeira vela! Olhares atentos postos no momento, quase como que a lerem o pensamento sobre qual dos rapazes recairia o privilégio para acender a vela. Depois da bênção da coroa foi chamado o «Márcio» para o espanto de toda a assembleia dominical. É o mais pequeno da nossa comunidade. Os nossos «Batatinhas» dão-nos um exemplo grande de humildade e simplicidade, deixam normalmente os maiores disputarem os primeiros lugares, embora também desejados por eles, e afinal das contas a prioridade é sempre para os pequenos…»

Padre Quim


PATRIMÓNIO DOS POBRES

«… Ele há vidas terrivelmente massacradas!... Não sabe ler... e é uma pessoa inteligente. A mãe morreu quando ela tinha um ano. O pai arranjou-lhe uma madrasta que nunca a mandou à escola. O pai casou-a aos treze anos com um homem de vinte que a fez sua escrava. Naquela situação, gerou uma filha nascida tetraplégica e mais três ou quatro filhos. O parceiro batia-lhe muito e ela fugiu de casa com outro e os filhos mais pequenos.

Naquelas andanças o homem foi preso, e ela também…»

Padre Acílio