DA NOSSA VIDA

Prover

Há muitos anos que vem a nossa Casa. Foi nela que encontrou o companheiro da sua vida. Não procurei indagar como foi esta até há uma dúzia de anos, quando a conheci. Só me disse que lhe foi garantido amparo sempre que dele necessitasse. À sua passagem por cá levava sempre do que mais gostava: um pacote de açúcar, pão, uma garrafinha de azeite e cevada para fazer o seu café. Hoje, continuam a ser os seus preferidos, que vamos nós, agora, levar-lhe.

Da protecção social recebe um pouco mais de cem euros. Levada pela necessidade mas também, certamente, alguma ilusão, contraiu um pequeno empréstimo para recuperar algo na sua pobre habitação, talvez a casa mais pobre que conheço.

Por causa deste empréstimo que contraiu vê-se agora mais aflita, porque não consegue pagar as respectivas mensalidades, já que o seu pequeno rendimento é absorvido, em boa parte, pelas deslocações constantes a consultas num hospital distante.

Talvez nunca tenha conhecido outra coisa que não a pobreza. Nós andamos pertinho dela para que não desanime, aviando as receitas todos os meses para suavizar os seus males e provendo, em parte, às suas necessidades. A paternidade de Pai Américo continua a cumprir-se.

A uma familiar, mais nova mas conhecedora de agruras na vida, fomos procurando contribuir para que acreditasse na vida, fazendo frente aos obstáculos intransponíveis que se instalaram no seio da família. É um processo, este, de conseguir vencer as barreiras do desânimo. Ainda não tem as condições para emergir. Sem paternalismos, vamos acompanhando.

Por amor dos Pobres fizemo-nos clientes habituais de várias empresas de distribuição de energia, de água e de gás, e inquilinos de um bom número de senhorios. Também a "nossa" farmácia atende as necessidades dos nossos mas muito mais as dos outros. Tratamos de aliviar embora não consigamos curar.

Quem conhece a vida dos Pobres vê como é vã uma vida vivida em excessos. Que há mais conforto em dar do que em receber. Que a história do pobre Lázaro se repete até ao termo dos tempos, entrando no Céu porque desprendidos da terra, e sepultados na terra aqueles que nela encontraram a sua riqueza.

Padre Júlio