OUTROS FRUTOS DA CASA DO GAIATO DE MOÇAMBIQUE

A Fundação Encontro (FE) é uma organização criada em 2011, como resultado do trabalho de desenvolvimento comunitário levado a cabo pela Casa do Gaiato de Maputo nas comunidades da Massaca e Mahanhane no Distrito de Boane e, Mahelane e Changalane no Distrito da Namaacha.

Desde os primórdios da instalação da Casa do Gaiato de Maputo na comunidade da Massaca em 1991, sentimo-nos envolvidos na edificação desta Casa. Sempre que possível, a comunidade tem participado em vários eventos realizados nesta Casa. Foi neste contexto, que a FE participou nas celebrações do sexagésimo primeiro aniversário da morte do fundador da obra.

Não chegámos a conhecer fisicamente o padre Américo Aguiar, mas a partir dos relatos do saudoso padre José Maria e das obras que nos chegaram, apercebemo-nos do quanto foi importante para os desamparados. O fundador viveu e trabalhou em Moçambique, tendo abandonado o seu bom emprego, respondendo ao chamamento de Deus. Em vida, desejou abrir uma Casa em Moçambique, o que não chegou a concretizar. Outros padres da Obra deram seguimento ao trabalho por si iniciado, fundando outras Casas, como é o caso da Casa do Gaiato de Maputo.

No lindo dia do Senhor, Domingo do Tempo Comum, as pressas dos meninos mais novos e mais velhos indiciavam um dia diferente. Afinal era o dia de reencontro de todos os rapazes, mesmo os que se encontram a trabalhar distante, levam as suas famílias para celebrarem esta data. As comunidades circunvizinhas não ficaram de fora, enchendo por completo a Capela.

Nesta data, 25 meninos da Casa, aceitaram Jesus Cristo como seu Senhor. Celebrou a missa neste dia, o Padre Cristiano, Secretário da Nunciatura em Moçambique, que trazia a mensagem do Papa Francisco. A mensagem do Sumo Pontífice foi saudada com uma salva de palmas, e encheu os nossos corações de alegria. Foi uma verdadeira festa, os cânticos devidamente escolhidos, e o coro composto por um grupo de meninos e da comunidade Pai Américo, animaram a missa, cativando a todos os presentes.

Na homilia, o Sr. Padre apelou aos cristãos para que vivessem na fé, que tenham esperança e caridade. Isto caracterizou o padre Américo Aguiar, imbuído pela fé, dedicou a sua vida aos mais necessitados. Hoje somos chamados a vivermos na fé, amando o próximo.

Encabeçado pelo padre José Maria, a Casa do Gaiato de Maputo teve várias realizações na comunidade com destaque para o programa de construção de casas melhoradas, construção de escolinhas, postos de saúde, implementação de programas de educação, bolsas de estudo, prevenção de várias doenças, preservação do meio ambiente. Recordamos o padre com célebre frase "Ó filho não corta árvore". Junto do Senhor, acredito que por sua intersecção luta por nós.

A Obra do Padre Américo extravasa a esfera da Casa do Gaiato, pois graças ao seu trabalho modificou a vida de muitas pessoas na comunidade.

"A melhor maneira de resolver os grandes males alheios é cada um fazer todo o bem que puder dentro da sua pequenina esfera de acção. Não há arma mais eficaz para combater o mal do que que a prática do bem", Padre Américo Aguiar.

Inspirado nos ensinamentos do Padre Américo, cabe à Fundação Encontro a responsabilidade de ajudar os necessitados dentro da sua esfera de acção, assim seria uma forma de homenagear o fundador da Obra.

António Mubetei

Fundação Encontro

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Padre Américo Monteiro de Aguiar, por nós tratado de Pai Américo, foi o oitavo filho de uma família cristã. Nascido a 23 de Outubro de 1887, na freguesia de Galegos, Porto - Portugal.

Desde criança foi sempre bondoso e caridoso com os que mais precisavam, tirando o pouco que tinha para oferecer e partilhar com os que necessitavam.

Ao longo do tempo ele foi estudando, apesar de vários obstáculos, conseguiu atingir o seu sonho, que era de ser Padre. Ao realizar-se esse sonho, Pai Américo começou definitivamente com o seu acto de caridade, fundando a Obra da Rua que é chamada de Casa do Gaiato.

Uma das mensagens que o Fundador da Obra deixou e que nos caracteriza, é que a criança não é uma mercadoria, nem trata-se de negócio. Que quanto mais desfavorecida for, maior é o seu valor.

Dentre várias mensagens deixadas por ele, resumem-se em amar o próximo. Com isto, temos visto a cada dia que passa, bons feitos de pessoas que se inspiram na vida do Pai Américo, a título de exemplo os continuadores desta grande Obra que é De Rapazes, Para Rapazes e Pelos Rapazes, segundo o seu lema. Todos nós podemos aprender com este exemplo que o Pai Américo nos deixou.

Queremos, em nome de todos os moçambicanos, agradecer pela expansão desta Obra até ao nosso País e por continuarem a estender a mão a quantos muito precisam. Só Deus sabe o quanto vos é difícil manter essa Obra.

Os alunos da 10ª Classe da Escola Comunitária da Casa do Gaiato

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A OBRA DA RUA EM MOÇAMBIQUE - Queria tanto poder escrever algo sobre o Pe. Américo, mas tenho consciência que não sei o suficiente para o efeito; pois, se conheço alguns dos seus feitos, foi graças ao Pe. José Maria e à Irmã Quitéria e às obras que me facultaram. Falar da Vida e Obra de uma pessoa carismática como ele, que sempre teve como sua regra fundamental de vida o Evangelho, não é tarefa fácil, pois tudo o que ele fez, não pode caber numa simples folha de papel.

Os seus 68 anos de vida terrena, foram mais do que suficientes para poder fazer e realizar grandes obras em prol dos mais carenciados. Ele não media esforços para ajudar a qualquer um que fosse, tanto mais que em 1940 abriu as portas ao primeiro abrigo para estas pequenas criaturas que estavam a passar por situações de risco - Casa do Gaiato de Miranda do Corvo. O seu principal objectivo era expandir a Obra além-fronteiras, tanto mais que a mesma chegou até ao Continente Africano, após a sua partida terrena.

A Obra da Rua chegou a Moçambique em 1967 onde, devido às nacionalizações das Instituições, em 1975 teve que abandonar o nosso País, e regressou em 1991 até à presente data. Desde então, tem vindo a desenvolver um excelente trabalho, pois muitas crianças em situação difícil foram acudidas e continuam sendo, apesar de não poder acudir a todas. Tal como dizia o Pe. Américo: "Não podemos salvar a todos. Até nem podemos fazê-lo a nenhum, se ele não puser a sua vontade à frente de tudo". Esta Obra é um ganho para o nosso País, apesar de não haver muito reconhecimento por parte do Estado Moçambicano.

É uma bênção poder ver hoje, vários meninos que passaram pelas Casas do Gaiato, formados, liderando famílias, empresas, distribuídos por todo o mundo, fazendo de tudo para que os seus filhos tenham um futuro digno (...), tudo isto sendo fruto da educação que tiveram na Casa. "Estas pequeninas criaturas de hoje serão, amanhã, por sua vez, pais de filhos...", Pe. Américo.

Tem sido muito bonito, ver a Família Gaiata unida para comemorar o dia 16 de Julho, data da partida do Fundador desta Obra. Todos os mais velhos, que residem fora da Casa do Gaiato em Moçambique, juntam-se aos mais novos nesse dia para juntos comemorarem com muito louvor. Temos visto o tamanho do entusiasmo com o qual eles participam na organização destas festas. Claro, existem outros que participam activamente na vida da Casa dia após dia.

Pe. Américo dizia: "Eu quero que o gaiato a meu cuidado se habitue a esta coisa simples e grandiosa - fazer a sua obrigação; e que desde pequenino, comece a obrigar-se a ela." É exactamente isto que tem acontecido na Casa do Gaiato. É impressionante ver a maneira de como uma criança de 6 ou 7 anos de idade, sabe arrumar sua roupa e a dos seus colegas.

Todos os que por esta Casa passam - pessoas amigas, das comunidades circunvizinhas - ficam encantados com a maneira como a educação é dada a todos os rapazes nesta Casa, pois os mais velhos sempre ajudam os mais novos, num sistema de entreajuda. Parecendo que não, mas esta é uma educação que não se encontra muito patente em famílias muito pequenas, onde contenham menos de 10 membros ou elementos familiares. É de louvar as Casas do Gaiato que muito fazem na demonstração do amor ao próximo.

Amílcar Bonifácio Machango