PÃO DE VIDA
Gratidão à Mealhada
Foi muito feliz e memorável a celebração do II Dia Mundial dos Pobres empreendida pelas laboriosas comunidades cristãs da Mealhada, orientadas por bons pastores, como o dinâmico Padre Rodolfo. Dois meses antes, convidaram a Família gaiata coimbrã, fundada por Pai Américo há cerca de 79 anos, para o dia 18 de Novembro, Domingo, nessas terras de pão e leitão.
O Papa Francisco, na linha de outros sucessores de Pedro, tem apresentado com muita determinação o Evangelho anunciado aos Pobres por Jesus e propôs em 2017 a celebração de um Dia Mundial dos Pobres. Quando foi eleito como sucessor de Bento XVI, em 16 de Março de 2013, como João XXIII afirmou: Ah! Como gostaria de uma Igreja pobre e para os pobres. Neste ano, a sua Mensagem para o II Dia Mundial dos Pobres foi intitulada assim: Este pobre clama e o Senhor o escuta [Sal 34,7]; e diz na abertura: Façamos também nossas estas palavras do Salmista, quando nos vemos confrontados com as mais variadas condições de sofrimento e marginalização em que vivem tantos irmãos e irmãs, que nos habituamos a designar com o termo genérico de pobres. Depois, é muito claro: o Senhor escuta os pobres que clamam por Ele e é bom para quantos, de coração dilacerado pela tristeza, a solidão e a exclusão, n'Ele procuram refúgio. Escuta todos os que são espezinhados na sua dignidade e, apesar disso, têm a força de levantar o olhar para o Alto a fim de receber luz e conforto. Escuta os que se vêem perseguidos em nome duma falsa justiça, oprimidos por políticas indignas deste nome e intimados pela violência; e contudo sabem que têm em Deus o Seu Salvador. Mais adiante, refere que o Dia Mundial dos Pobres pretende ser uma pequena resposta, dirigida pela Igreja inteira dispersa por todo o mundo, aos pobres de todo o género e de todo lugar a fim de não pensarem que o seu clamor caíra em saco roto.
Entre todos nós, Obra da Rua e seus amigos, o ambiente e o sentimento geral tem sido de profunda dor, depois do sucedido no Calvário, em 7 de Novembro, com a retirada ostensiva de doentes frágeis do seu lugar de acolhimento e repouso (onde viviam como família cristã, de irmãos amigos e laboriosos, com alegria e esperança, qual colmeia feliz), sendo assim separados contra a sua vontade. A propósito, por estes dias, no Relatório sobre a Liberdade Religiosa no mundo, entre Junho de 2016 e Junho de 2018, estima-se que mais de 300 milhões de cristãos vivem em países onde a liberdade religiosa não é respeitada e assegura que 61% da população mundial encontra-se a viver em países onde a liberdade religiosa não é respeitada. Não sendo seguros os dados da situação em Portugal, pois muita perseguição é subliminar, encontrámos no centenário e estimado jornal Amigo do Povo, desse Dia, esta evidência dolorosa: Neste Dia Mundial dos Pobres, vale a pena recordar a Obra da Rua. E também alertar para o facto de esta Obra ser, neste momento, um dos rostos mais visíveis da Igreja perseguida em Portugal. O Papa Francisco, nesta questão da tragédia dos martírios cristãos, na actualidade, sublinhou sem medo e com firmeza: assistimos a uma perseguição violenta ou a um achincalhamento cultural sistemático exercido sobre os discípulos de Jesus.
Por estas duras razões e nossas intenções, dessas horas, chegou entretanto e deu-nos mais ânimo, em comunhão, a Mensagem do Bispo de Coimbra aos participantes na celebração do II Dia Mundial dos Pobres, na Mealhada. Foi expressamente enviada, lida pelo Pároco na Eucaristia, na igreja de Santa Ana, e escutada com muita atenção e gratidão, pelas cerca de quatro centenas de fiéis presentes nessa Celebração Eucarística. Pelo seu teor pastoral e amigo, de D. Virgílio Antunes, bem merece ser colocada acima do alqueire e aqui registada para memória futura. Eis: Saúdo com amizade a comunidade reunida na Mealhada para a celebração do II Dia Mundial dos Pobres e desejo que seja um dia muito feliz para todos. Todos somos pobres que precisam de ser acolhidos por Deus e pelos irmãos, mas também todos havemos de escutar o grito daqueles que clamam por amor e auxílio no meio das angústias. Deixo um caloroso convite para que aceitemos ser pobres em espírito, pois é a condição para que estejamos uns com os outros de coração aberto e a partilhar o que somos e o que temos. Sinto-me muito grato ao Papa Francisco por nos apresentar com clareza a Boa Nova anunciada aos pobres e propor à Igreja e à humanidade este dia, porque ele nos leva ao coração do Evangelho. Felicito as comunidades, instituições e pessoas que assumem e dão corpo à iniciativa destas celebrações, especialmente na Mealhada. Este gesto tem um alcance profundo, pois significa que sois um povo que cuida dos pobres com justiça e caridade e que, desse modo, estais a trabalhar em ordem à promoção da dignidade de cada pessoa humana. A todos os que estão marcados por qualquer forma de pobreza, por não terem os meios materiais necessários, por não terem família, por causa da idade avançada ou da doença, por se sentirem sós e sem amor, mando uma calorosa saudação, na esperança de que seja portadora de consolação e solidariedade. Envio ainda um especial abraço às crianças e jovens da Casa do Gaiato, desejando que tenham um dia muito feliz.
Foi muito expressiva a forma transversal como as comunidades da Mealhada - Antes, Ventosa do Bairro, Casal Comba, Luso, Mealhada, Pampilhosa e Vacariça - colaboraram para que tudo corresse pelo melhor, desde a participada e sentida Celebração Eucarística ao almoço com famílias cristãs, bem como ao extraordinário espectáculo no Cine-Teatro Messias, ouvindo no início a voz profética de Padre Américo e testemunhando o brilhantismo dos nossos actores - que interpretaram muito bem a Vida e Obra de Padre Américo, Aqui é a Casa do Gaiato, O barbeiro d'o gaiato e o Hino da Casa do Gaiato. Os nossos amigos deram também alma e corpo ao menino que queria ser feliz! Depois do saboroso convívio final, todos se despediram muito felizes por terem participado neste grande dia! Na verdade, foi unânime a alegria vivida por todos os rapazes e muitos amigos e amigas das comunidades cristãs da Mealhada, neste dia memorável, em que houve verdadeira evangelização, conforme concluiu o seu pastor, pois sentiram muito o carinho e a amizade do bom povo da Mealhada, que tão bem sabe receber quem o visita, nesta grande sala de jantar, com um sorriso nos lábios e boa mesa! Quem participou nestes momentos alegres e sentiu o amor transmitido neste dia pelos cristãos da Mealhada, levou no seu coração a felicidade experimentada assim mesmo e ao vivo, no dizer do Papa Francisco: Os pobres evangelizam-nos, ajudando-nos a descobrir cada dia a beleza do Evangelho. Nas refeições com publicanos e pecadores, nas multiplicações dos pães e na última Ceia do Senhor, Jesus fez-Se presente e actuante, tornando efectiva esta palavra — Os pobres comerão e ficarão saciados [Sal 22, 27]. A gratidão é a memória do coração.
Bem-hajam!
Padre Manuel Mendes