PÃO DE VIDA
Pelos hábitos de trabalho
Não é a despropósito, em plena época quente, de fuga para o litoral e de férias escolares, tentarmos alinhavar um elogio da necessária ocupação saudável da gente nova, sabendo que os hábitos das tarefas e de trabalho devem pegar desde cedo. De pequenino... Com Rapazes em formação, provenientes das periferias, vamos lidando 25 horas e há sementes que caem em sítios diferentes e os frutos nem sempre se vêem ou tardam.
Actualmente, os mais novos têm de andar nas escolas até aos 18 anos; e quem dera mais, não em passatempo fútil, se porventura forem formados para o mercado de trabalho, em que a mão-de-obra de sangue na guelra pudesse mobilizar a sociedade e a economia nacional, hoje de tendência global e na era digital, no antropoceno, com novos desafios tecnológicos. Acontece que, devido à precariedade laboral, muitos dos melhores vão emigrando. Com a charrua e a Escritura, os sábios monges beneditinos marcaram decisivamente, e bem, a paisagem e a cultura do Velho Continente. Ora et labora.
Andam os alunos do Secundário a esforçarem-se por encontrar o curso certo, mais ou menos marrões, e vamos já reflectindo no tempo perdido que se avizinha de praxes retrógradas e não inclusivas. As festanças ruidosas manifestam insensata histeria. Em Coimbra e noutras academias nem sempre se vê uma lição, nestas tradições.
Por imperativo de paternidade, diga-se sacerdotal, mesmo secando e azoratando, aproveitámos para observar o que se vai passando nos terminais de transporte, rodoviários e de caminho de ferro. O comboio, com pena nossa e de tantos amigos dele, retrocedeu neste jardim à beira mar plantado, em zonas de interior com maravilhas e necessitado de acesso aos cuidados de saúde, ensino e outros serviços. O que temos visto, fixando retratos de luz e sombras? Em ambientes de stress, no corropio das bilheteiras, um excessivo novo riquismo de quem ainda não produz, mas demonstra exigências fúteis, deambulando entre festivais. Proliferam também festas pagãs (algumas ofensivamente religiosas), com dependências lesivas, sem rei nem roque. Isto até que comece o ano lectivo ou de turismo para quem ainda não sabe o preço da castanha. Tantos jovens, infelizmente, nem estudam, nem trabalham.
Com este cenário, não admira, pois, que no relatório de 2016, do sistema de acolhimento de crianças e jovens, em Portugal, os dados não sejam nada famosos e se encontrem sinais preocupantes: chegam às Instituições cada vez mais adolescentes com problemas de comportamento e hábitos de vida com traços desviantes, mais complexos e exigentes. De 8175 crianças e jovens acolhidos, existiam 1609 (20%) a quem foi prescrita medicação psicotrópica. Aqui bate-se numa tecla que é preciso analisar bem: como interessar os mais novos pela escola, quando muitos deles não tiram os olhos de máquinas nas suas mãos, cada vez mais sofisticadas. Estarão os pais a dar aos filhos e filhas o que não devem ou acima do que podem? Basta ver as entradas matinais nas escolas ou quem anda, até de ouvidos tapados, pelas ruas dos centros populacionais.
O cuidado e a preservação do meio ambiente é assunto cada vez mais focado nos currículos escolares, nos media e nas redes sociais. Os incêndios estão na ordem do dia pela negativa. Urge cavar mais fundo e dar a mão à palmatória, procurando em nosso modesto entender apostar seriamente no ensino actual e para a vida, já na faixa 12-16 anos, pois no 10.º ano é mesmo tarde. Sem anacronismo, os anteriores cinco ramos de ensino - liceal, comercial, industrial, agrário e artístico - prepararam milhares de quadros intermédios para a economia nacional e de além mar. Actualizados e adaptados aos novos tempos, certamente prenderiam melhor os mais novos às escolas. Depois dos 18 anos, quem não tem unhas não pode tocar guitarra. É manifesto que escasseiam trabalhadores preparados para executar certas tarefas específicas, que outrora vinham mais cedo de escolas técnicas. A instrução escolar vai negligenciando a componente pedagógica prática até ao 9.º ano e há muitos alunos e alunas que não se reconhecem nem integram num sistema massificado. Um ensino unificado deitou por terra um século de ensino diversificado. Os próprios manuais do ensino primário eram autênticos compêndios, que espantam os mais atentos (v.g. de Botânica). Reconhece-se, ainda, que uma Primária bem feita é meio caminho andado no sucesso escolar. Ensino (e liberdade de ensino) para todos, sim, é de justiça; não significa ensino igual para todos. Cada pessoa é uma vocação.
Mais, há educandos cuja idade cronológica está desfasada da idade escolar ou têm dificuldades cognitivas, e que vão perdendo o seu precioso tempo. Quando atingem a maioridade, saem do sistema desarmados, sem aptidões e hábitos de estudo e trabalho. É fundamental para o desenvolvimento sócio-económico a ocupação saudável dos jovens também para além da escola e que os estabelecimentos de ensino sejam capazes de captar os mais novos, mesmo com dificuldades de aprendizagem e problemas de comportamento. Um exemplo, entre nós, como amostra entre tantas: Solicitámos superiormente para dois Rapazes com 17 anos, que não conseguem atingir o 9.º ano regular, outra possibilidade escolar para chegarem a uma certificação profissional.
Em sua Casa, vem de longa data a formação caseira em
áreas como: cozinha, serviço de mesa, jardinagem, horticultura, agricultura,
tratador de animais, floresta, desporto e teatro. Água com fartura e verdura
ajudam à formosura! Nas oficinas, de artes e ofícios, os menores não podem ter
lugar. Também a aprendizagem escolar nesta vertente se foi desvanecendo. Em dia
abrasador, com nuvens de fumo, foi-nos dado ver uma dúzia de Rapazes aguardando
vez para pegarem na sua enxada, aguçada na serralharia, e assim cortarem ervas
daninhas, à sombra, entre carvalhos. No regresso dos heróis, ansiosos
por mergulhos na piscina e ida para a praia, alguns gabarolas deitarem ao vento
que o seu eito foi o melhor! Depois, escutámos ainda atentamente este elogio,
de quem esteve bem ocupado: - A merenda é a refeição que gosto mais!
Padre Manuel Mendes