PÃO DE VIDA

Da trasladação de Pai Américo

Fiel ao Senhor Jesus, o verdadeiro Mestre, que padeceu o suplício da Cruz no Gólgota, também Padre Américo, depois da chegada ao Calvário - em Beire (Paredes), derradeira Obra para Doentes pobres, sem surpresa aproximou-se do termo da sua vida terrena. Quatro dias antes, em 12 de Julho de 1956, participou na inauguração e bênção da linda Capela da Casa do Gaiato de Beire, de granito, por D. António Ferreira Gomes, Bispo do Porto: «Naquele dia a presença da Igreja foi visível entre nós na pessoa do seu Bispo. [...]» [Padre Carlos - «Presença da Igreja», in O Gaiato, N.º 324, Paço de Sousa, 28 Julho 1956, p. 1; com foto].

Aconteceu o seu passamento em dia de Nossa Senhora do Carmo, 16 de Julho de 1956, no Hospital Geral de Santo António, no Porto, como consequência de um acidente de automóvel, em S. Martinho de Campo (Valongo), a 14 de Julho. Como S. Paulo, poderia dizer: cursum consummavi [acabei a corrida] [2 Tm4, 7]. De 16 para 17 de Julho, o seu corpo esteve na igreja da Trindade, no Porto, aonde acorreu uma multidão de pessoas, chorando o Pai dos Pobres. Na manhã de 17, foi levado a enterrar no cemitério paroquial de Paço de Sousa, junto à igreja paroquial do Salvador, com grandioso acompanhamento.

Passados cinco anos, em 17 de Julho de 1961, os restos mortais do Padre Américo foram trasladados de uma campa simples na cabeceira desse cemitério, a sul do jazigo da Casa de Antelagar, da sua família, para a Capela da Casa do Gaiato de Paço de Sousa - denominada do Santíssimo Nome de Jesus, onde ficaram a repousar em campa rasa de granito com uma cruz em relevo e esta inscrição: ERA 1956/ AMÉRICO MONTEIRO D´AGUIAR/ PRESBÍTERO. Situa-se no presbitério, lado norte, em cuja parede se encontra um belíssimo vitral de um pelicano - o resumo da sua vida! A pedra da campa de Pai Américo é uma réplica da sepultura de seu irmão mais velho, Padre José Monteiro de Aguiar (1874-1947), no cemitério de S. Miguel de Paredes (Penafiel).

Estas últimas vontades foram assim testemunhadas: «'Se me fizerem uma pedra, podia ser como a que fiz a meu irmão Padre Zé...' - Assim se fez. 'Se fosse possível, gostava de ficar na nossa Capela...' - Esperamos que assim se faça.» [Padre Carlos - «Pai Américo», in O Gaiato, N.º 452, 8 Julho 1961, p.1].

A confidência seguinte exprime muitíssimo bem a sua fé inquebrantável na ressurreição: «Oh grandezas escondidas nas tábuas dos caixões; grandezas que a terra não come! Eu acredito na Eternidade. Eu quero viver, viver, viver.» [Padre Américo - Isto é a Casa do Gaiato, II vol., Paço de Sousa, 1951, p. 146.].

O sítio e uma intenção pessoal sobre o repouso dos seus restos mortais foram desejados desta forma bem clara: «O Padre Américo tem de morrer e o nome dele ficar nos alicerces da Casa do Gaiato, escondido: se o grão de trigo ficar à vista não dá pão. Não é modéstia, é amor à Criança abandonada. É política... do Pai Nosso. Torna-se necessário que ele desapareça para que a Obra cresça.»[Pão dos Pobres, vol. IV. Paço de Sousa: Editorial da Casa do Gaiato, 1984, p. 34-35.].

De seguida, é obrigatório recolher de uma fonte impressa fundamental algumas notas destas horas marcantes, especialmente para a Igreja Católica, a Obra da Rua e os seus amigos devotos. O sucessor de Pai Américo, Padre Carlos, deu a notícia da trasladação, enquanto ainda se esperava a certeza desse dia 17 de Julho, segunda-feira: «Estamos convencidos de que ninguém irá estorvar a realização desse seu desejo - também nosso - de ficar aqui mais pertinho, aos pés daquele Altar onde ele amadureceu tantos pensamentos que geraram obras a bem da Nação!

[...] Há-de ser tudo muito simples, para ser ao gosto dele. Encontro de família. Quem estiver, grande ou humilde, estará por devoção, a título de amizade.

Às dez da manhã, a exumação no cemitério local. Depois, viremos avenida acima, recordando aquele Amigo de uma hora antes da primeira hora, o qual acreditou sem ver: o Engenheiro Duarte Pacheco.

[...] Depois, na Capela, será Missa Solene. Missa de branco, que é cor da pureza, de alegria e paz.

Depois, o seu corpo fica ali, de onde o seu espírito jamais se arredou.

E será mais um estímulo para continuarmos a viver em simplicidade» [O Gaiato, N.º 452, 8 Julho 1961, p.1].

Padre Manuel Mendes