PÃO DE VIDA

Do Padre António Sobral

Tendo lido uma carta manuscrita do Padre Américo em que refere o Padre Sobral, dirigida ao Padre Horácio e datada de 23 de Junho de 1956, veio à nossa lembrança prestarmos uma simples e merecida homenagem a um sacerdote cuja proximidade à Obra da Rua se manifestou nomeadamente na Casa do Gaiato de Santo Antão do Tojal e na Casa do Gaiato de Setúbal. Na verdade, todos os amigos da Obra da Rua fazem parte da sua história. Essa carta foi escrita em papel timbrado da Obra da Rua, pouco tempo antes da partida de Pai Américo para o Céu, com notas sintéticas sobre a vida da Obra da Rua nesses dias, mas com planos para o futuro… Eis a dita missiva:

«23/6/56

P.e Horácio: Recebi tua carta e contas de M.da [da Casa do Gaiato de Miranda do Corvo] e Setúbal.

Mando aqui cheque de 2.500$00. Próximo dia 2 de Julho, missa nova P.e Sobral, Fátima, creio que às 10, 30, estaremos todos para conversarmos de tudo. Por cá tudo bem. Padre Adriano mais aliviado. Deus te ajude. É mais um mês — Julho. A seguir, cada um no que é seu.

Teu do coração P. Américo!».

Para vermos de relance alguns momentos do seu itinerário depois da ordenação presbiteral, recortamos algumas informações do quinzenário da Obra da Rua. Assim, depois do Santuário de Fátima, o Padre Sobral celebrou Missa Nova na Capela da Casa do Gaiato de Paço de Sousa, em 3 de Julho de 1956, conforme crónica desenvolvida de Daniel Borges da Silva ['Paço de Sousa - Uma Festa', in O Gaiato, N.º 323, 14 Julho 1956, p. 4]. O cronista José Roque Crisanto, na Casa do Gaiato de Setúbal, escreveu assim: «No dia seis de Julho celebrou aqui uma das suas missas o senhor Padre Sobral. O Sr. Padre Sobral foi um dos que ajudou a fundar esta Casa. Os leitores não sabem o que é uma Casa destas em começo! Pois ele esteve dando o seu melhor esforço e boa vontade para que ela andasse para a frente. Por isso era dever de todos nós, ou melhor obrigação nossa, prestamos-lhe esta homenagem. […]» ['Setúbal', in O Gaiato, N.º326,1 Setembro 1956, p. 4]. No ano seguinte, recortámos esta informação do cronista Zé do Porto, da Casa do Gaiato do Tojal: «[…] o Snr. Padre Sobral com alguns dos nossos confrades [da Conferência vicentina] foram pela freguesia, de porta em porta, e assim se arranjou alguns mantimentos e escudos. Com isto já pudemos dar aos nossos pobres uma bela consoada, embora o nosso desejo fosse para mais.[…]» ['Tojal', in O Gaiato, N.º 338, 16 Fevereiro 1957, p. 4].

Ainda esta linda notícia familiar, do cronista de Paço de Sousa: «Quinze de Maio. Fez anos [27] o Júlio Mendes, que convidou para ir jantar a sua casa o Snr. Padre Carlos e o Snr. Padre Sobral, juntamente com alguns chefes das oficinas. Foi um dia alegre por parte do Júlio e respectivos funcionários da Tipografia, que lhe ofereceram uma prenda, que ele, comovido, agradeceu muito. Fazemos votos que esta data se repita por muitos e felizes anos. ['Paço de Sousa', in O Gaiato, N.º 346, 8 Junho 1957, p. 4].

Depois destas lembranças muito gratas, das suas primícias sacerdotais, seguem-se breves notas biográficas, disponibilizadas pela Diocese de Setúbal. Assim, o Padre António Augusto Sobral nasceu a 28 de Setembro de 1931, em Moimenta da Beira, Diocese de Lamego, sendo filho de Diogo Augusto e Maria José Sobral, no seio de uma família com cinco filhos. Entrou no Seminário de Resende, na Diocese de Lamego, em 12 de Outubro de 1944. Transitou em 1948 para o Seminário de Almada; e depois para o Seminário dos Olivais, do Patriarcado de Lisboa. Foi ordenado Presbítero em 29 de Junho de 1956, na Sé Patriarcal de Lisboa, pelo Cardeal Patriarca D. Manuel Gonçalves Cerejeira.

Depois, o Padre António Sobral ficou como Pároco de Santo Antão e S. Julião do Tojal, Fanhões e Vialonga (nos arredores de Lisboa). Sucedeu ao Padre António Baptista dos Santos, como este nos testemunhou, o qual foi enviado pelo Patriarca de Lisboa para a Obra da Rua, ficando na Casa do Gaiato do Tojal. Entre 1961 e 1965, foi Capelão e professor do Externato Frei Luís de Sousa, em Almada. De 1965 a 1975, foi Pároco na Cova da Piedade, dinamizando a actividade pastoral, em especial com os jovens; e acumulou em 1973 com o Vicariato de Laranjeiro — Feijó. Em 29 de Maio de 1975, o Padre Sobral chegou ao Barreiro; e foi-se dedicando nomeadamente à pastoral social, fundando a Caritas e o Centro Paroquial Padre Abílio Mendes. Sendo criada a Paróquia de Santa Maria do Barreiro, em 13 de Maio de 1996, ao entrar disse que não veio para ser servido, mas para servir; e desenvolveu aí uma actividade exemplar, colaborando com alguns movimentos eclesiais. Foi director do Jornal do Barreiro e Capelão do Hospital Nossa Senhora do Rosário, no Barreiro. Em 2004, foi distinguido com a medalha de mérito municipal de ouro. Faleceu em 14 de Julho de 2008, com 76 anos. A uma artéria barreirense, em Santo António da Charneca, em 2014, foi atribuído justamente o nome Padre António Sobral.

Padre Manuel Mendes