PATRIMÓNIO DOS POBRES
Quero dar aos Leitores do Património
dos Pobres a alegria que me inunda a alma e transvaza naturalmente para
eles. Sim é a eles, aos leitores Amigos, que se deve esta inundação jubilosa: -
Comprei uma casa para a Janete - a mãe dos cinco filhos despejada da
sua casa como quem atira o lixo para o caixote.
O Estado através das assistentes sociais soube apenas assustar e ameaçar: - Tanta criança junta numa casa só - repetindo, repetindo para encontrar razão sem justiça, nem respeito pela mãe, pelas crianças e pela inquilina da casa; a qual por dó e amor acolhera aquela família desditosa. Mais; desconfiamos que terão alertado a (autoridade?) vigilante das casas, para a situação considerada ilegal, da acolhedora.
A morada desta passou a ser revista, várias vezes, a horas desencontradas, por dois personagens, em diversos dias, para ver se encontravam lá a Janete e os filhos e arranjarem argumento para remover da sua habitação a heróica inquilina.
A desgraçada mãe e os seus filhos têm sido obrigados a viver na rua. E ir para casa só ao anoitecer, a levantar-se cedo e sair de casa a fim de não ser apanhada pelos autoritários fiscais. Estes, até lhe levaram uma pequena piscina de borracha, vinda do Jumbo, que havíamos dado à Janete para os pequeninos se refrescarem do calor.
Perguntamos: Com que autoridade? Não queremos isto aqui? Tomariam esta atitude perante uma pessoa instruída e salvaguardada por um bom advogado? Fariam? Eram donos da piscina? Estas atitudes dignificam alguém? Não será apenas o espezinhar dos pobres?!...
Autoridade sem autoridade é pura e simplesmente autoritarismo pior que ditadura. Como resolver então a moradia desta infeliz família? Alugar uma casa? As rendas estão cada vez mais altas e as casas para alugar cada vez mais raras. Como?
Não havia outro caminho se não comprar-lhes uma casinha e fazer escritura em seu nome. Ficar em nome da paróquia seria o espírito do Património dos Pobres, mas se esta se alheia da situação, como fazer? Responder-me-ás que a posse poderia ser dada à Casa do Gaiato. Nós já temos tantas complicações e tanto que fazer que uma casa seria mais um encargo.
Em nome do pai dos filhos da Janete, em nome dos dois? Pareceu-me que não, pois ele é muito imaturo, apesar da idade. Então? A escritura ficará apenas em nome desta nobre, sublime e valorosa mãe.
Não é demais que a propriedade seja dela. Não é demais, tenho a certeza, que nunca será capaz de se desfazer deste bem que o Senhor lhe dá. Eu conheço-a.
A casa é um quarto andar. Situa-se na Bela Vista faz parte de um bairro social cujos apartamentos têm sido vendidos. O último comprador alindou a casa rodeando a sala e os corredores com uma cercadura de um metro de tamanho ao alto, em azulejos lindíssimos, a imitar o antigo. A moradia tem uma boa casa de banho, dois quartos, uma larga cozinha e uma sala contígua enorme.
Da janela da sala avista-se a embocadura do Rio Sado a entrar no mar e a majestade da Serra da Arrábida.
A casa apresenta também um bom estado de conservação. Só precisa de uma limpeza que se fará logo que tivermos a chave.
Tenho dois beliches para os quartos dos rapazes e um magnifico móvel de sala de madeira maciça bem envernizado e comprido que dará um ambiente de beleza de requinte e bem-estar!
Os sofás e as camas irão da nossa Casa, do armazém das vossas dádivas.
O preço foram trinta e um mil euros, os quais virão da caridade dos meus leitores. Nesta altura em que me abalancei a ajudar Malanje e já recebi estimuladoras dádivas de amigos atentos mais generosos e mais fortes no espírito de pobreza volto a bater à porta para estarem comigo neste sacrifício muito agradável a Deus.
A Obra da Rua, nesta casa da Janete, ocupa o lugar do seu fundador: fazer o que o Estado devia fazer e mostrar ao mesmo como devia agir. É a nossa linha.
Padre Acílio