PATRIMÓNIO DOS POBRES
Entre as forças que concorrem para o aumento da pobreza extrema está o abandono dos progenitores masculinos, das suas responsabilidades paternais relativas aos filhos e à mulher com quem os geraram.
Há dias vi-me aflito com seis abandonadas, com dois ou três filhos, por via da renda da casa. Sim, não sei como pensa quem nos governa e a quem pergunto: - o que faz uma mulher sozinha para sustentar os filhos, pagar a água, a luz e o gás?
A renda da casa, hoje é uma exploração e uma forma esperta de pôr o capital a render, uma vez que os bancos nada dão a quem lá guarda o seu pecúlio. Não falamos de factos caídos debaixo da lei porque o tribunal tem as suas férias e a sua morosidade para que o Estado intervenha. Neste intervalo quem carrega com as despesas? Evaporam-se? Só se for assim.
Não falemos da alimentação das crianças que é uma perda fundamental para o seu desenvolvimento. Nem dos remédios, sobretudo quando eles não têm comparticipação, como aconteceu hoje com uma a quem tive que dar 90€ para curar uma doença da bebé com comichões no corpo todo, especialmente na boca, nos pés e nas partes íntimas. Para cada membro era uma marca diferente da pomada.
O pobre, para certas pessoas responsáveis, não tem problemas!... É tudo uma maravilha!...
Oh, gente sem coração nem inteligência! As crianças já não representam o Portugal de amanhã.
Mas eu falava do meu encontro com as seis mães abandonadas e os filhos a seu cargo. Cada uma com a sua situação complicada, as quais têm muitas semelhanças.
O homem encontrou uma mulher mais agradável ao seu gosto, então o que faz? Larga a mãe dos seus filhos, foge ou junta-se com outra. E se é dono da casa, não liga ao direito dos filhos, exigindo que a mãe deles, pague uma renda de 400€ da casa em que viviam, ela e os três pequeninos, por ser dono da mesma.
A mulher com um aspecto obeso devido às maternidades seguidas e à fraca nutrição, à base de alimentos estéreis, só tem que se sujeitar às exigências do homem que é dono da casa, tem o direito de abandonar o fruto de suas entranhas, a mulher que lhe criou os filhos e ir, sem a repulsa da opinião pública muito menos das leis familiares.
Ai de uma mulher que abandone os filhos! Toda a gente lhe cai em cima.
Se for um homem a fazer o mesmo ninguém o vai chamar à ordem.
O homem é livre, a mulher é escrava.
Os direitos e os deveres estão muito longe de serem iguais.
O próprio ambiente cultural em que vivemos repudia uma mulher que desampara os filhos indo-se embora sem satisfações, enquanto que o homem abandona a sua casa com mulher e filhos e tudo é normal.
Quando o homem com a sua ânsia desenfreada e violenta liberdade faz o que lhe nasce das paixões do falso predomínio sobre a mulher e os filhos, faz tudo que lhe dá na gana, sem freio e sem lei.
Outra enjeitada, o pai dos três filhos levantou o dinheiro que tinha no banco, não pagou a renda da casa do mês correspondente e desaparece com outra mulher. O senhorio não esteve com meias medidas, como não passava recibo e ela não pagou o mês passado, deu-lhe um curto prazo para que arranjasse outra casa.
Claro que para uma mulher sem dinheiro e sem amparo familiar, entrar numa casa não é negócio possível em parte nenhuma do mundo; só com o auxílio da Graça e Misericórdia Divina que lhe foi dado pelo Património: 350€ para a caução mais 350€ para a renda de outra casinha, onde se acolheu com as crianças.
A pobre mulher apresentava uma cara de desespero que impressionava: olhos fundos e encovados, negros e secos de chorar, manifestava alto risco de tempestade psicológica e afectiva porque passava a sua alma.
Pelos vistos estes procedimentos de um alcance social degradante e destruidor da família e da paz não terá fim nesta modernidade laica que nos atingiu.
Entre os mais pobres, poucos meses de namoro, chegam para se julgarem aptos a juntar os trapinhos e conviver como se a vida em comum não exigisse uma longa e madura preparação. Estamos a chegar a um nível selvagem, os machos fecundam os óvulos e o resto é com a crias.
As mães abandonadas são cada vez mais e há homens que já experimentaram com três ou quatro mulheres com quem tiveram filhos e largam-nas como fazem os irracionais na aridez das savanas.
Outra mãe, porque ele não trabalhava e ainda vivia à sua conta e dos abonos das crianças, teve que o pôr a andar. Este problema dos que não trabalham é outra chaga sociológica muito difícil de debelar.
Só à força e com critérios bem definidos, baseados na lei natural: quem não trabalha não coma. Há sempre formas de fugir a esta responsabilidade, até acontece com os magríssimos abonos de família. Há pais que, para continuarem a receber o abono de família dos filhos sem os matricular nas creches só lá vão depois de saberem que elas já estão cheias e sem lugar, para pedirem um certificado desta incapacidade e continuarem a receber.
A lei do trabalho sendo natural precisa também de uma força da política.
Sem uma ocupação obrigatória nunca mais, nem ninguém será capaz de extinguir a miséria social em que vivemos.
A responsabilidade laboral é a grande terapia humana. O nosso povo na sua sabedoria de séculos diz que a preguiça é mãe de todos os vícios e eu que o diga diante destas tristes realidades.
Padre Acílio