PATRIMÓNIO DOS POBRES

Temo e receio de não me ouvir falar em crise, termo que toda a gente usa quer a sinta, quer a despreze, quando eu já vivo nela há muito tempo. Parece-me mesmo que sempre andei mergulhado nela.

É verdade que compete à maior parte dos cristãos, que não se inquietam com ela, tratando-a como uma coisa social que fala baixo, ninguém a ouve ou mesmo quase ninguém: - E não uma avalanche de carências que afecta tanta gente nossa vizinha e a quem poderíamos dar algum remédio.

Se os homens acreditassem como os benfeitores do Património e sofressem como eles, muita gente poderia saltar a barreira da pobreza extrema, para um nível mais aliviado.

Jesus sentiu esta aflição como ninguém e apreciou-a tão profunda e universalmente, em todos os tempos, continentes e nações, a vida real.

No capitulo XVI dos versículos 19 -31 de S. Lucas, Jesus conta mais a vida real que devia obrigar a estremecer quantos através das épocas da História, a passam pelo seu Criador e seus filhos: - o rico avarento também achava que era somente o Estado, que devia resolver o problema material dos cidadãos, e não ele próprio, as situações de doença, da dor e o desprezo que até os cães o vinham aliviar, lambendo-lhe as feridas.

Tão arrependido da vida refastelada que havia levado e do desprezo dado ao pobre Lázaro, que se doeu dos seus irmãos carnais e pediu ao Senhor, que mandasse de novo ao mundo, Lázaro, com a missão de despertar os irmãos, os quais levavam uma vida igual à sua, para que não viessem a cair naquele eterno tormento, sendo a resposta de Deus simples, concreta e precisa: - Eles têm lá Moisés e os profetas, que os oiçam.

Jesus insistiu com firmeza e desgosto: - se eles não ouvem a palavra divina e os profetas, muito menos ouvirão uma pessoa conhecida que ressuscitasse dos mortos.

Ora Jesus elogiou a viúva pobre, por ter dado tudo quanto possuía da sua penúria e assim, em algumas épocas da história, os Cristãos ofereceram generosamente aos pobres, quantias que aliviaram a sua própria pobreza.

Embora saibamos que os principais agentes do Estado são pessoas bem remediadas ou mesmo ricas, e que quanto mais ricas mais passeiam e gozam a vida neste mundo, há também alguns Cristãos e instituições, que sendo ricas e vivendo bem, fecham os seus bens, os gozam e os aumentam, esquecendo por completo: - tanta pobreza que poderiam atenuar!...

O nosso Papa Francisco não se cansa de pedir aos Cristãos, com mais posses, que sejam generosos com os seus irmãos mais pobres, que contactem com eles, que os visitem, que os convidem para a sua mesa, que façam amizade, pois não há nada melhor para avançar na Santidade do que conviver com os pobres, e com Deus que vindo ao mundo, não achou nível mais social e melhor do que a classe mais desprezada da humanidade.

A História da Igreja está cheia de exemplos: - Muitos são os Santos, que se tornaram notáveis pela virtude da pobreza e da vida de Amor aos pobres.

Quantos até mudaram de congregação e de vida, por Amor aos pobres, ou criaram outras instituições mais exigentes, porque a vivência nova era mais real, mais viva e mais autêntica.

Outros e outras, na vivência da sua Fé não encontraram melhor para o seu coração do que aquela em que a pobreza sobressaía mais e ajudava melhor a imitar AQUELE QUE NÃO TEVE, SEQUER UMA PEDRA, ONDE RECLINAR A CABEÇA.

O Santoral da Igreja Católica, está recheado de magníficos e belos exemplos de homens e mulheres, que deram todos os seus bens aos pobres e até os bens materiais e nada quiseram para si: - Renunciando viver para mais ninguém senão para os carentes e caídos da sociedade.

A pobreza e os que nela viviam foram as suas próprias paixões, e tornaram-se os mais insignificantes, entre os quais, São Nuno Alvares Pereira que trocou a sua nobreza de classe pela pobreza social, dando a todos os bens materiais, intelectuais e afectivos, aos pobres que assim, saíram do seu estado de pobreza extrema.

Se muitos sacerdotes vivessem e sofressem o estado extremo da pobreza, pregá-la-iam com muito mais afinco, mais convicção, agregando assim muita gente à Igreja e tornariam o Senhor Jesus mais conhecido, admirado e amado.

Padre Acílio