PATRIMÓNIO DOS POBRES
Passou o Natal!... Passou o Natal!... Quem pôde fez festa, com mesas mais ou menos abundantes, conforme os critérios e as posses de cada família.
Juntam-se os membros mais chegados, aproveitando esta ocasião para reforçar os laços afectivos, com prendas e gestos mais ou menos sinceros. É uma festa humana do Natal, mas pouca gente lembra a razão fundamental, do acontecimento que foi transferido pelos cristãos, da festa do Sol, pagã de Roma. Jesus que se proclamou Luz do mundo é bem o sol da vida dos Homens, celebrada na capital do Império.
Muitas trocas de presentes, cada um o mais surpreendentemente agradável, mas poucas famílias se lembram da prenda ao pobre dos pobres. Toda a gente e em todas as casas, o mais importante desta festa é o brinde Àquele que nasceu pobre e se identificou com todos os da sua condição. Não se reconheceu com os inteligentes, com os ricos, com os artistas e os sábios. Mas escolheu para sua imagem perpétua, os pobres, os doentes, os presos e todos caídos na valeta da vida, para se irmanar e perpetuar no mundo dos Homens.
Já aqui tenho apresentado algumas disposições de pessoas e famílias acolhedoras de gente abandonada pela sociedade, e recebida em sua casa e família, como se elas lá tivessem nascido. Hoje um telefonema dava-me a notícia de que uma dessas felizes pobres, adquirida por uma família cristã, estava a ser operada no hospital público aos olhos, onde entrou com um pedido especial.
Mas eu tenho outra para contar aos meus amigos do Património. - Uma pobre abandonada pelo progenitor dos seus dois filhos, ainda pequenos, a quem tenho pago a renda da casa, também se doeu de uma mulher sozinha, rejeitada pelo único filho que foi para França, o qual não quer saber da mãe, envelhecida, doente e já com alguns momentos de demência, espoliada de tudo e posta na rua, por não pagar o quarto aonde se recolhia. Apareceu-me com ela pela mão, e a queixar-se de que a senhoria a ameaçou de aumentar a renda da casa, por ela a ter acolhido.
Apresentou-ma e eu vi a desgraçada com um olho de vidro muito ramelado, um aspecto de grande carência, profundo sofrimento, agarrada à sua protectora.
Perguntei, com naturalidade à defensora: - Como a encontrou? Explicou-me que a tinha achado a chorar, cheia de fome e sujidade, posta na rua. Recomendei-lhe que levassem a infeliz à Segurança Social e lhe pusessem o problema, pedindo uma ajuda imediata.
Sabemos que um organismo do Estado, neste regime, em Portugal, por enquanto, não vale aos cidadãos sem fazer um processo.
Como a acolhedora, passado o mês de Novembro começou a ser pressionada para pagar mais à sua senhoria, perguntei-lhes se a Segurança Social não tinha dado nada. A resposta foi imediata e seca: - Estão a organizar o processo.
A pobre, entretanto, não come, não se veste, não se lava, não toma remédios e vive na esperança do processo!... É evidente que lhes valeu de novo o Património. É o segundo caso parecido que conto aqui. Gente que acolhe em sua casa e na sua família, mas esta benfeitora, vive em casa arrendada, é muito pobre, mas mesmo assim dá belas lições ao mundo.
É para valer a estas heroínas e a todos os que sofrem, que em todas as Ceias de Natal se deveria retirar uma prenda para o Menino, presente em todos os pobres e todos os membros das mesas deveriam participar. É um dever cristão e humano, a que se não se esquivam os amigos do Património como exemplo vivo de Fé e de humanidade.
Padre Acílio