PATRIMÓNIO DOS POBRES
Por mais fortes e mais altos que tenham sido os meus gritos a favor
dos pobres sem casa, ainda vejo a crise de habitação muito longe de ser
resolvida.
Concordo plenamente com o termo paliativo, forma como o Presidente da República classificou a atitude das autoridades relativamente a esta desgraçada situação.
Paliativos são aqueles remédios que servem para diminuir o sofrimento das pessoas cuja cura se extinguiu e agora vão tomando estes auxílios medicamentosos para poder aguentar até que venha a morte.
Verdadeiramente, quando seria possível uma mobilização de todas as forças e recursos para construir casas, apenas aparece um auxílio para os inquilinos.
Para os que já perderam a sua morada, postos na rua e se acolheram na casa dos outros, às vezes com duas e três famílias numa promiscuidade demolidora, a estes se responde com um frio alheamento. Sim, para esses qual é a solução?
Quando se torna impossível pagar um aluguer ou outro aluguer e as pessoas não podem, como? E para aqueles que têm casa alugada para senhorios que não passam recibo, para fazerem mais barato, qual é o benefício desta tomada de posição? São muitos os que exploram quanto podem, dada a carestia das habitações para alugar.
Como será possível as famílias monoparentais, com dois, três ou quatro filhos, a ganhar o ordenado mínimo, pagar uma renda das mais baixas — 450€ ou mesmo 350€ — por uma baiuca para dormir e se abrigarem do frio, da chuva e do calor?
Há dias, uma destas com dois filhos, um de quatro e outro de cinco anos, andava a tomar uns comprimidos para vencer a constante alucinação que lhe repugnava: matar os filhos e suicidar-se em seguida. Perseguia este desejo tremendo e conseguiu uma consulta num psiquiatra, que lhe receitou estas pastilhas para abrandar tão macabro desejo que a dominava.
Paguei-lhe, várias vezes, a renda da casa, foi explorada por um indivíduo sem escrúpulos que arrendou várias moradas que não eram dele e, quando se descobriu, teve de ir para a rua.
Devia ao Banco de Portugal 877€. Trabalha durante a noite numa fábrica e, mesmo assim, ainda lhe descontavam no ordenado mínimo, um terço para saldar aquele calote. Achei tão repugnante tal procedimento legal, que não descansei enquanto não a aliviasse daquele peso.
Hoje não há curraleiras nem barredos, mas há outros bairros parecidos, onde se acoitam e, especialmente, os africanos. E para esses, quais são os benefícios tomados pelos que nos governam, se não há construções de casas.
Construir, construir, construir. Não é ficar à espera da chucha da iniciativa privada que irá vender e arrendar, enchendo os cofres do estado com os impostos de que não se livram.
A tentação dos homens que nos governam é muito mais ganhar votos, em vez de procurarem o bem comum dos cidadãos, como aponta o Papa Francisco na Encíclica "Fratelli Tutti", tentando dar-nos a impressão de que são capazes, com as suas decisões, palavras e atitudes, de enganar os cidadãos e procurar, sobretudo, os votos em vez de casas para as famílias.
Padre Acílio