PATRIMÓNIO DOS POBRES
Inunda-me uma alegria larga que desejo partilhar com todos os amigos do Património provocada pela compra de uma casa para uma mal tratada mãe, vítima de terrível violência da parte do progenitor da sua filha, que a ameaçava de morte se ela o denunciasse e apareceu-me sozinha, com a sua inocente criança em busca de protecção e amparo.
A Segurança Social teve conhecimento dessa terrível situação e quis tirar-lhe a menina com menos de 2 aninhos, dando um prazo de 15 dias para ela arranjar uma casa.
Ainda lhe paguei a renda da casa de dois meses informando-a que não podia contar com o meu permanente amparo por causa do alto preço das mesadas.
Hoje arranjar uma casa é uma dificuldade para toda a gente e muito mais para quem está sem trabalho certo. Conseguiu um quarto que lhe paguei ainda alguns meses até granjear a simpatia de uma idosa, a senhora da casa que se compadeceu dela e foi o seu seguro das garras da Segurança Social que tudo fazia para lhe levar a criança, exigindo que lhe arranjasse uma casa com dois quartos, um para ela e outro para a menina.
Como? Era impossível… há um princípio da moral e penso que do Direito também, que diz assim; "Ad impossibilia nemo tenetur". (Ninguém é obrigado a fazer acções impossíveis) Mas parece que este fundamento é ignorado pelos agentes do Estado ou, pior ainda, ultrapassado por leis. Seria, portanto um acto irrealizável para uma jovem mãe desamparada, alugar uma casa e muito menos comprá-la.
Entretanto a bondosa anciã e senhoria encheu-se de compaixão pela desgraçada e chorosa mãe, prontificando-se a dar-lhe uma casa de sua propriedade. Não a deu, mas vendeu por um preço barato que me foi apresentado. Eu não tinha quase nada para pagar, mas confiei na Santa Senhoria, e ela em mim e os dois em Deus. Dei-lhe como sinal 10.000,00€ e fiquei de lhe ir pagando à medida que arranjasse meios.
Com o peditório que fiz na Quarteira, Vilamoura e Pereiras, já referido nos números anteriores de O Gaiato, e a venda do meu livro Gestos de Misericórdia num Coração Missionário, arranjei os 35.000,00€ para saldar a referida morada e ainda o pagamento a um hospital particular de Lisboa no valor de 2.500,00€ da mesma pobre que ali tinha sido operada.
Estas ações, como comprar uma casa para dar a uma família desamparada, pretendem somente revelar o Amor de Deus pelos pobres, as quais só faço a quem me der garantia e força para sair da extrema pobreza, aproveitando outras ajudas como esta a quem paguei uma carta de condução para que o seu salário subisse cerca de 300,00€ mensais.
O Património não pretende resolver o problema da habitação, mas, como toda a Obra do Padre Américo, anunciar acções concretas, o Amor que Deus revela em toda a Bíblia, sobretudo nos Salmos como por exemplo no 71: O Senhor salvará os pobres e libertará os oprimidos. Socorrerá o pobre que pede auxílio e o miserável que não tem amparo. Terá compaixão dos fracos e dos pobres e defenderá a vida dos oprimidos. Libertá-los-á da opressão e da violência e o sangue deles será precioso a seus olhos.
Nem Pai Américo nem ninguém pode ou deve arrostar uma meta dessas, mas é próprio da Igreja com acções concretas, chamar a atenção para um problema tão grave como o da habitabilidade.
Pai Américo com o fogo da sua palavra e escrita, conseguiu que muitos párocos por esse Portugal além, levantassem o véu que encobria tanta miséria. Sim é este o caminho do Património: arrancar da miséria extrema, as famílias que nela caíram. Todos ganharemos com o desenvolvimento habitacional, mais ainda na chamada luta contra a pobreza que não tem nada de luta e tem sido tão apregoada por todos os quadrantes políticos.
As duas assistentes sociais quando verificaram que as suas ameaças caíram vencidas: — Como é que conseguiu tanta coisa em tão pouco tempo?!
Foi o Amor de Deus que veio em auxílio da desgraçada e ela adquiriu uma casa, não com dois quartos, mas com três, uma ampla sala, cozinha, despensa e WC, com vista deslumbrante para a boca do rio. Tudo Obra do Amor de Deus e mais nada.
Padre Acílio