Património dos Pobres 

A correspondência com os meus leitores é uma riqueza que não pode ficar só para mim. É de todos. Somos o corpo místico de Cristo, como nos diz o Apóstolo, embora muitos de nós, tendo os mesmos sentimentos, não saibamos exprimir tão bem uns como os outros.

Esta leitora, há muitos anos comprometida, dizia-me numa carta pela Páscoa: «peço que nos dê notícias pel'O GAIATO, das necessidades dos nossos irmãos mais desfavorecidos para não esquecermos aqueles que sofrem». Acompanha sempre as suas mensagens, escritas à mão, com trezentos euros, agora que a sua capacidade económica diminuiu muito, dantes dava mais.

Nestes dias, escreveu-me de novo: «Sinto-me mal amigo, ao ler os vossos artigos, do Património dos Pobres. A situação de tantas famílias a viverem em condições desumanas, faz-me pensar porque é que eu tenho o conforto necessário, enquanto tantos irmãos vivem pior que alguns animais. Sinto-me mal senhor padre Acílio. Não deixe de nos lembrar que há tantas injustiças que nos esquecemos, porque não as vemos».

Como o Espírito de Deus trabalha em corações abertos!

As gritantes injustiças socais, deixa-os em mau estado.

É própria da Obra da Rua, apurar a consciência do mal, sobretudo aquelas injustiças que poderíamos evitar ou corrigir, também para diminuir a instalação clerical, religiosa, política e social. Não é o caso desta senhora, ela reparte o que pode. Mas, quantos vivem tão bem, enquanto outros não têm um mínimo? A indiferença é cada vez mais larga...

A sociedade laica, propicia este adormecimento nas pessoas mais bem instaladas e insensíveis ao sofrimento alheio.

Querida amiga, aproveite a Luz santa do Espírito Divino e dê-Lhe graças, pois outros vivem num mundo de cegos e a Senhora vê.

Por e-mail, um leitor a trabalhar no estrangeiro, fala assim: «Desde há muitos anos, sou leitor d'O GAIATO, vivo e trabalho na Alemanha. Acabei de ler o jornal de 29 de Abril e, tocou-me muito o seu artigo Património dos Pobres.

Quero oferecer e dizer-lhe, que me diga caso a caso, onde posso financeiramente intervir em casos deste género, e aliviar-lhe as suas preocupações. Sou uma pessoa normal com a minha família e vivo do meu trabalho numa empresa, como milhares de pessoas o fazem. Tenho duas filhas; uma casada, vive aqui na Alemanha da qual, tenho um netinho, a outra, formou-se há pouco em Coimbra e vive na nossa casinha em Portugal. Fiquei infelizmente viúvo a 25 de Maio de 2016. A minha esposa foi vítima de negligência médica ao fazer exame de cateterismo.

Sempre fui sensível às dores e sofrimento dos outros e, agora, com a morte da minha esposa, mais me apercebi de que Deus e Jesus Cristo, apesar das dores que me proporcionou, me faz mais fortemente compreender que o Amor de Deus é assim mesmo "DAR-SE A ELE". Assim, em seus braços lhe entreguei a minha esposa, e vivo feliz, sabendo de que Ele lhe dá a felicidade que eu, marido, nunca lhe poderia».

Desejo as graças de Deus para continuar a escutar a voz do deserto.

Meu amigo, entendo a sua preocupação em me pedir caso a caso, as infelizes situações que encontro à minha volta e também, em muita partes de Portugal, de famílias arrasadas pela indiferença e falta de recursos materiais. Sei que hoje há muita exploração, semelhantes àqueles que alugam aleijados para pedir nas ruas. Os casos vão-se resolvendo com as ajudas dos cristãos activos e, sempre que possível, com a colaboração das pessoas sujeitas à pobreza e à miséria.

Há casos em que resolver as situações, demora muito tempo. A minha atenção tem de se distribuir por muitas preocupações.

Se quiser juntar-se às pessoas que confiam na acção da Obra da Rua, faça como entender. A nossa direcção é: Casa do Gaiato, 2910-281-Setúbal. O deserto ainda não entrou em todos os corações humanos.

Daqui vai também um abraço para si e para todos os que à sua volta puder despertar.

No Altar do Senhor, tenho a sua esposa e a sua família.

Padre Acílio