PATRIMÓNIO DOS POBRES

Sem tomar qualquer posição partidária não entro na política que a minha missão é apenas a defesa dos pobres, a verdade e a justiça. Lembrei-me neste Património pôr algumas reflexões de gente que sabe o que diz pela sabedoria e experiência.

A democracia não é um sistema onde se elegem os melhores, mas onde se evitam os ruins.

Esta afirmação ressalta como uma bola de futebol para todos os lados conforme os toques dos que jogam. Se houver muitos jogadores de um lado e os adversários ficarem a ver o espectáculo naturalmente, estes saem derrotados.

Dizem que é um dever cívico votar. Eu diria que é também uma obrigação moral e quase um pecado ficar em casa a dizer mal dos políticos, a chamar os nomes que alguns merecem, sem se aperceberem de que são eles os instalados que com a sua abstenção lhes dão a vitória.

Estamos em plena campanha eleitoral. Verás que todos os chefes de partidos e os seus apaniguados virão falar dos pobres, da extrema pobreza, dos desprezados e marginais e, depois de se sentarem no poder, fazem como os outros ou então como os anteriores.

A primeira decisão que tomaram na Assembleia da República foi aumentar os seus próprios vencimentos, construíram um governão gastando noventa milhões a preparar os gabinetes e os ambientes para os novos membros.

Diz o povo com a sua sabedoria de séculos: presunção e água benta cada qual toma a que quer. Se amamos os pobres não fiquemos em casa. Vamos dar o nosso pequeno impulso aos mais sérios e bem-intencionados, rejeitando assim os gulosos que desejam subir na política apenas para se promoverem ou crescerem na sociedade ou rechearem os seus bolsos.

O nosso Papa Francisco traça bem as linhas para uma política séria na sua encíclica Fratelli Tutti.

Actualmente muitos possuem uma má noção da política e não se pode ignorar que frequentemente por trás deste facto estão os erros, a corrupção e a ineficiência de alguns políticos (...) mas o mundo não pode funcionar sem política (...) a grandeza da política mostra-se quando, em momentos difíceis se trabalha com base em grandes princípios e pensamos no bem comum a longo prazo. O poder político tem muita dificuldade em assumir este dever num projecto de Nação (...) não para fins eleitorais, mas o que exige uma autêntica justiça, pois os bens deste mundo são apenas o empréstimo que cada geração deve transmitir à geração seguinte.

Reconhecer em cada pobre um irmão com direitos e dignidade não é uma utopia mas exige capacidade de decisão para pôr a justiça a trabalhar e ser seguro com os preguiçosos, os embriagados de todos os tóxicos, os encostados e os exploradores, uma casta de gente que se não for obrigada a viver dos subsídios da esmola, do roubo ou da vigarice educa os seus filhos na mesma vida e nunca sairemos da cepa torta.

Para um projecto que erradique a pobreza é urgente exigir hábitos de trabalho, de disciplina, de economia e dar subsídios a quem precisa mesmo e merece.

É necessário que os técnicos sociais saiam dos seus gabinetes, visitem as famílias mais carentes, dando-lhes o correspondente às suas necessidades verdadeiras.

Estive hoje com uma viúva doente com um cancro no fígado e três filhas. A mais nova com sete aninhos, uma cara de cal e a precisar de uns óculos. Tem as guias de tratamento em casa porque não tem dinheiro para se aviar na farmácia. Recebe o subsídio de viuvez de cento e oitenta euros e cada filha sessenta euros. Paga de renda mensal trezentos euros. Já devia dois meses e o senhorio que é um homem rico, ameaçava-a com a rua. Gente que caminha para a extrema pobreza. Não conta com o mínimo suficiente, enquanto outros com saúde se entregam à bebida, ao fumo, à prostituição e à desgraça, recebendo o subsídio que só lhe faz mal.

Um político tem de ter uma visão larga e minuciosa da sociedade, sentindo as suas fraquezas e necessidades e não andarem a regalar-se com jantares e comemorações à custa do erário público como tem acontecido.

Palavras e promessas bonitas todos sabem fazer para levar a sua água ao moinho, agora tomar o país real não é para todos, só para os sérios que se dêem ao povo.

Padre Acílio