PATRIMÓNIO DOS POBRES

Escrevo este Património em plena campanha eleitoral. Quem dera que as promessas feitas ao povo para conseguir os seus votos, fossem compromissos sérios, a realizar na próxima legislatura, ou pelo menos a pegar-se em projetos viáveis que tentem diminuir a pobreza.

Entre as grandes aflições do povo está a situação dos mais débeis, dos sem casa, sem hábitos de trabalho, dos doentes sem recursos sequer, para adquirir os remédios para os seus males.

O caso da viúva com três filhas de que falei na última conversa com os meus leitores é bem evidente como se relega para último lugar os mais fracos e os mais pobres.

O Papa Francisco dorido com estas tendências dos líderes políticos escreve-lhes na sua encíclica FRATELLI TUTTI: O serviço que prestam congregando e guiando pode ser a base para um projeto duradouro de transformação e crescimento que implica também a capacidade de ceder o lugar a outros na busca do BEM COMUM. Mas degenera num populismo insano quando se transforma na habilidade de alguém atrair consensos, a fim de instrumentalizar politicamente sob qualquer sinal ideológico, ao serviço do seu projeto pessoal e da sua permanência no poder. Outras vezes procura aumentar a popularidade fomentando as inclinações mais baixas e egoístas de alguns setores da população. O caso agrava-se quando se pretende com formas mais subtis o servilismo das instituições e da legalidade.

O BEM COMUM de uma nação ou de um povo tem de ser o objetivo único de qualquer político, em qualquer tempo e lugar. Nunca se servir desta carreira ou missão para proveito próprio ou dos seus amigos.

Num país como o nosso em que a pobreza humilha mais de um milhão de pessoas, os caminhos para sair desta situação não podem ser alheios a qualquer líder político. Não venham agora com promessas, quando tiveram oportunidades e tempo, para pelo menos, esboçarem qualquer projeto de resolução desta chaga nacional.

O hábito de trabalho é fundamental. Diz o Papa Francisco: A grande questão é o trabalho porque promove o bem do povo, a garantia a todos, a possibilidade de fazer germinar as sementes que Deus colocou em cada um, as suas capacidades, a sua iniciativa e as suas forças.

Esta é a melhor ajuda para um pobre, o melhor caminho para uma existência digna, por isso insisto, que a ajudar os pobres com dinheiro deveria ser sempre um remédio provisório. O verdadeiro objetivo deveria ser proporcionar-lhe uma vida digna através do trabalho.

Com os doentes e com os mais pobres temos de ter a atitude do Samaritano que se aproxima, comunga a derrocada da família ou da pessoa, presta-lhe auxílio e leva-o para uma estalagem, com o compromisso de ficar com a sua dívida às próprias costas, até que ele recupere as forças, a dignidade e o lugar a que tem direito na vida social.

Fui dar com a filha mais nova da viúva doente da quinzena passada, uma menina de oito anos, anémica, quase cega de um olho a precisar urgentemente de uns óculos, o que parece muito difícil e demorado para a Segurança Social fornecer.

O que fazer àquela criança? Sim! O que fazer? Deixá-la continuar a cegar, prejudicando a aprendizagem da escola a que tem direito? Que diz a maior parte dos políticos? Fazem festas e promessas e não querem saber!

Fui com ela e a mãe a uma casa de óculos, comprei dois pares porque paguei pouco mais do que só com um par.

Como eu já tinha ajudado a mãe em duas rendas de casa e ela continuava com muitas queixas que não conseguia dormir com tantas dívidas e já tinha feito vários contratos com a água sem poder cumprir e com a internet para a filha mais velha que é boa aluna dei-lhe mais quatrocentos euros para seu alívio.

Todas estas aflições deveriam cair no coração de um político e muito mais num discípulo de Jesus, seguidor dos seus caminhos.

Padre Acílio