PATRIMÓNIO DOS POBRES

Como todos sabemos o Papa actual convidou-nos a ir às periferias sociais e aí pregar o Evangelho aos pobres. Não como aquele grupo de eclesiásticos que visitando uma instituição da Igreja, observou as instalações, comeu lá um bom almoço e julgou assim cumprir o mandato papal.

Não. As periferias são outra gente, pessoas caídas na valeta da vida sem que ninguém as levante. Gente sem hábitos de trabalho que vegetam nos bairros sociais a viver de qualquer maneira sem trabalhar, desculpando-se que são objeto de racismo e por isso ninguém os emprega.

Não se proporcionou a tempo a ocasião de dar a notícia n'O Gaiato de eu ter comprado mais uma habitação para alguém que vivia neste mundo sob três fortes pressões: o abandono; a pobreza e a ameaça.

O abandono do pai dos filhos que desertou, como quem não se sente responsável por o fruto de si próprio e se nega agora a assumir, ao menos, o infantário das crianças.

O tribunal obriga-o a pagar, mas ele apresenta provas de que não o faz , embora ganhando.

As crianças ficam desamparadas da escola e da desproteção, durante o dia, enquanto a mãe ganha o sustento da família.

A pobreza oprime de tal maneira que se não fosse o Património lhe ter pago o quarto e a casa aonde dormiam não tinha outro remédio se não ir para debaixo da ponte e morrer ao frio.

A ameaça da Segurança Social que em vez de lhe fornecer uma casa condigna e meios para ela criar os dois filhos, a intimida de lhos tirar se ela não conseguir criar condições.

A Segurança Social, em nome do Estado, que pela Constituição da República é obrigada a dar a cada família uma casa para viver, faz exactamente ocontrário: assusta-a de lhe tirar os filhos do seu ventre e do seu coração.

Oh! Mundo! Tão perseguidor dos pobres e tão cego ao sofrimento materno. A mãe que lhes dá o peito, o acfeto e o amor incomparáveis, absolutamente vitais para o equilíbrio das crianças é afastada dos seus filhos por não ter meios. E ainda, por aqueles que tinham a força, o poder e a obrigação de proteger as crianças retira-lhes o que elas têm de melhor, a Mãe, sob o falso protesto de proteger os menores.

Sim. Comprei-lhes uma casa e perante a fome de outras abandonadas, com esta acção cometi uma injustiça, por ter dado uma morada. A outras, nem renda, nem pagamento de água e luz por ter empatadas as esmolas de Natal na aquisição da referida casa.

O Património aparece assim como um sinal de contradição, ele foi criado por o Pai Américo por ser um sinal de justiça e chamar as autoridades a fazerem o mesmo.

Andamos há mais de cinquenta anos com palavras na boca em termos fortes LUTA CONTRA A POBREZA, quando afinal, como escreveu também o fundador da Obra, somos uns derrotados. A Miséria Vence.

O Património não pretende acabar com a pobreza, mas apenas abrir caminho, fechar alguns focos de miséria para mostrar a ricos e a pobres, a governantes e a governados que é possível; se quiserem aliviar a miséria e não fazerem desta chaga social apenas um jogo político.

Nas Manteigadas, eu vi-me, há dias, envolvido numa grande confusão que à força me queria obrigar a remir uma multa ao Estado e mostrava-me o seu rancho de filhos (uns cinco ou seis): - veja, veja quantos tenho que alimentar.

Ao que eu respondi... - Você se tem tantos filhos deve trabalhar para eles e não estar à espera que outros ganhem para si e sua família.

- Então dá-me trabalho? - E eu respondo: - Eu não sou empresário para lhe dar trabalho. Procure-o. Há por aí tantas obras e empresas onde pode ganhar a vida. Vá, esteja a horas, não falte, seja diligente que encontrará o que precisa de forma generosa, segura e digna.

O homem exaltou-se, chamou-me demónio; que eu era de Satanás e começou a ameaçar-me.

Uma senhora que me acompanhava havia levado uma cadeirinha de criança, de bebé para comer à mesa, volta-se para mim muito assustada. - Oh! padre, não pode vir para aqui sozinho!

- Oh! fulana, não venho porquê? Já aqui me bateram e me roubaram enquanto eu distribuía alimentação às famílias e não morri.

Verdadeiramente ninguém pense acabar com a miséria sem primeiro acabar com uma disciplina de trabalho por forma a pôr, pelo menos, o pai de família a trabalhar.

Não falo assim por concordar com qualquer político, mas este assunto é uma lei natural e a única forma de libertar o Homem e a sociedade, pois que a preguiça é mãe de todos os vícios.

A Fratelli Tutti é contra a dependência permanente de subsídios para quem tem saúde. O subsídio deve servir apenas para levantar as famílias até que se ergam para um patamar digno. A melhor forma de vencer a pobreza é o trabalho com remuneração justa.

Padre Acílio