PATRIMÓNIO DOS POBRES

O Património dos Pobres sendo obra do Padre Américo e destinado primariamente a ajudar as famílias no que respeita à sua habitação abrange muito mais, a vida dos que caíram na pobreza do que somente a habitação.

Quando uma pessoa passa fome, isto é, está a adoecer por causa da fraqueza, não lhe vamos pagar um quarto sequer para dormir, primeiro matamos-lhe a fome e a seguir virá o seu recolhimento.

As necessidades primárias são: dar de comer a quem tem fome, como aprendemos no catecismo. Primeiro a comida e os remédios, a casa vem depois.

Assim o património preocupa-se muito mais, em primeiro lugar com os famintos e doentes, depois as suas casas, barracas ou casas abarracadas.

Com o apelo forte do padre Américo e o seu apoio, os párocos construíram milhares de casas por esse país além. Os mais zelosos, os melhores Bons Pastores fizeram das tripas coração para abrigar com a mínima dignidade as famílias mais carentes das suas paróquias e levantaram-se casinhas airosas, muitas com pequenas hortas, bairros e ruas onde se aconchegaram.

Alguém, ligado ao problema habitacional do País , fez um estudo completo de todas as iniciativas desta área nas dioceses e enviou-me, por e-mail, essa completa investigação.

É um volume grande, trouxe-me notícias felizes e algumas muito tristes!

Informou-me que várias casas foram vendidas.

Se a venda foi feita aos seus habitantes, ainda bem. É sinal de que a morada ajudou a reabilitar a família e cumpriu o objectivo para que foi levantada.

Se foi negociada com outros, por ter vagado ou não haver famílias carentes ao redor, e o seu valor foi dado aos pobres, aceita-se. Agora, se foram vendidas e o dinheiro foi desviado para outros fins, mesmo religiosos são acções impensáveis de quem se diz honesto. Acho isto quase um sacrilégio.

Aquilo que é dos pobres também é sagrado e como tal deve merecer respeito.

Quando o padre Américo sugeriu que as casas do património ficassem sob o patrocínio da Fábrica da Igreja Paroquial como sua propriedade, nunca supôs que alguém entrasse neste santuário com olhos profanos e se atrevesse a trocar o seu espaço por obras na igreja paroquial ou até na residência paroquial. Nenhum pároco tem poderes para alienar estes bens sem conhecimento do senhor bispo que é quem superintende nos bens da sua diocese.

A sensibilidade com os pobres tem decaído tanto que até coisas destas acontecem na Igreja e não se tem como um pecado. Os pobres são ignorados e até se houve falar que hoje não existem. É a indiferença! Isso não é comigo! Não quero saber...

Numa paróquia não muito longe, eu visitava quatro famílias que viviam num prédio do património com duas no rés do chão e outras duas no primeiro andar. E todas me diziam: - O padre só quer que a gente saia daqui. Isto ouvi eu com os meus ouvidos!

Foi pena aquele esquema treze que nunca chegou a sair, mas que esteve no coração de alguns bispos do mundo, no pós-Concilio Vaticano II e que o Papa Francisco se tem esforçado para o ressuscitar no seio da Igreja, o qual faz parte do Reino de Deus.

O amor ao pobre é essencial para que a Luz de Cristo ilumine a Terra inteira. Quem despreza o amor ao pobre afasta-se do amor de Deus. Deus é amor. Um amor que o mundo reconhece quando ele se vê em obra e preocupações. Não é aparente, é real.

Há tanta pobreza nas periferias da cidade e aquele mercenário - não pastor - vai trocar o que foi feito para os pobres com dinheiro de uma igreja mais sacrificada e muito mais pobre do que a actual!... Tem casas desabitadas e não procura os pobres que gemem e passam mal para pagar rendas por minúsculas moradas, sem condições e vai modernizar a sua própria moradia e a do Senhor!

Será que o Senhor gosta destes projectos? Estas perguntas não se lhe põem porque ele tem olhos, mas não vê. É capaz de ler o que o Papa escreve, mas não entende.

Não reza ele o cântico de Isaías (Is 61,10 -62,5) muitas manhãs à quarta-feira:

"Exulto de alegria no Senhor,

minha alma rejubila no meu Deus,

que me revestiu com as vestes da salvação

e me envolveu num manto de justiça (...)."

Não cega ele também os olhos dos cristãos que sabem da carência terrível de casas e olham para este procedimento!... não ficam cegos?

"Por amor de Sião não Me hei-de calar,

por causa de Jerusalém - [a Igreja do Senhor] não

terei repouso, enquanto a sua justiça não despontar como a aurora

e a sua salvação não resplandecer como facho ardente."

Padre Acílio