PATRIMÓNIO DOS POBRES

Neste tempo de Pentecostes sinto-me impelido a narrar algumas das maravilhas que o Espírito Santo vai fazendo no coração dos leitores do Património, pondo-os em sintonia com as aflições dos pobres e em comunhão com a pobreza que me rodeia, fazendo renuncias, compartilhando os seus bens e sentimentos comigo.

O facto de poder aliviar, por vezes a fome, deve-se à actuação do Espírito Santo no coração daqueles que se habituaram a viver segundo as suas aspirações.

A Palavra de Jesus é viva e eficaz, ela passa muito mais vezes pelos pobres, doentes e abandonados do que pelos que vivem bem ou até mesmo pelos que vivem razoavelmente. Estes esquecem-se do que aprenderam ou herdaram dos seus ascendentes.

O Dom admirável do Espírito Santo faz prodígios!... Revelou-se a uma leitora apaixonada pelo Património.

Quero e ela também não tolerará que eu diga algo produtor de qualquer desconforto.

Foi assim: - Uma senhora do Serviço Social encontrou uma mulher completamente abandonada a viver numa baiuca sem água, sem fogão e sem luz. Era apenas uma toca onde se abrigava do frio, deitada numa nojenta enxerga.

Que fez a senhora do Serviço Social? Para onde levar a pobre que cheirava tão mal que ninguém poderia aproximar-se da criatura de Deus? Não há lares que aceitem gente que cai tão baixo!

A minha leitora, apaixonada do Património, soube do caso e ofereceu-se para tomar conta da mulher. Recebeu-a com uma alegria semelhante à de Marta quando o SENHOR foi a sua casa ou até à de Zaqueu que perante o Mestre se converteu exclamando, vou dar metade dos meus bens aos pobres e se danifiquei alguém restituirei o quádruplo.

- Ela que venha que a aceitarei como se fosse o SENHOR.

O cheiro não a incomodou. Aproximou-se dela, beijou-a, fê-la sentar na sua sala e conversou, ouvindo parte da sua triste vida: o repúdio de todos, da sua família naquele beco, a fome, a sujidade considerada como um bicho, levavam-lhe comida congelada que ela tinha de comer fria sem ter sequer com que a amornar. Falou-lhe de um irmão que estivera na Casa do Gaiato e cujo paradeiro desconhecia.

Entre lágrimas e choros demoradamente abriu o seu coração à samaritana que ouvia comovida e carinhosa como quem escuta narrativa da Paixão do Senhor.

Depois de a consolar com uma sopa quente e muito pertinho dela, sem manifestar qualquer repelência, convidou-a e ofereceu-se para lhe dar banho. Arranjou-lhe roupinha. O seu corpo não era muito diferente do dela, foi lavá-la com água quente como ela jamais tinha saboreado.

Era o SENHOR a quem ela lavava. Uma sensação sobrenatural, dava-lhe forças e conforto para lavar a rejeitada . - Aí padre, se visse aquelas peles enrugadas, com vincos profundos de surro!? Eu nunca imaginei, olhe que só ao quinto dia é que o cheiro desapareceu totalmente. O meu marido também a acolheu, os meus filhos e os meus netos vieram daí a dias e fizeram-lhe uma festa. Eu exultei de alegria! Era uma alegria ampla, radiosa e reconfortante. Eu tinha o Senhor Jesus na minha casa.

- Ela trata-me por mãe e ao meu marido por pai! Eu não sei definir a minha felicidade!... Sou tão feliz, tão feliz, tão feliz. Acolhemos o SENHOR! Ela senta-se à nossa mesa. Ensinei-a a comer. Ela é tão humilde! Tão humilde! Tão humilde!... Está tão contente connosco, quer ajudar-me. Eu nunca tinha passado por um tempo tão bom e tão feliz.

O Espírito Santo é capaz de fazer prodígios, irradiar naquela família um ambiente de Fé, de fortaleza e de comunhão! - Até já os meus netos a tratam por avó! Que lindo! Que lindo!... Olhe que nunca pensei gozar neste mundo uma alegria destas. Ter o SENHOR na minha casa fazendo parte da minha família.

- Se soubesse o que eu sinto quando ela me chama de mãe!...

Imagino a realização viva das palavras de Jesus: - Quem é a minha mãe, quem são os meus irmãos? Aquele que faz a vontade de meu Pai! Esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.

Não é para outra reacção ou sentimento. Se a pobre fosse uma pessoa limpa, com hábitos, não admirava que alguém a recebesse em sua casa!

Podia também sentir nela a Presença Divina, mas nesta situação, muito mais.

O que fizeres ao mais pequenino, ao mais repelente e abandonado... - É a mim que fazes.

Aquela apaixonada, vive hoje e para toda a sua vida, uma sensação do sobrenatural inimaginável! Só quem a sente a pode apreciar. São assim os Dons do Espírito Santo! Prodígios.

Padre Acílio